Trump e a mudança
05-01-2024 - 06:30
 • Francisco Sarsfield Cabral

Convém ter uma ideia do que poderá trazer uma vitória eleitoral de Trump em novembro. Para que ninguém depois se queixe de não ter sido avisado.

Nas previsões sobre o que irá trazer o novo ano, que há pouco começou, ninguém omite a eleição presidencial nos Estados Unidos, apesar de ela ocorrer apenas no início de novembro. É que a perspetiva de mudança, para pior, que essa eleição acarreta não pode deixar ninguém indiferente.

Os partidários de Trump, nos EUA, e os seus seguidores pelo mundo fora, consideram que a vitória do seu ídolo lhes vai trazer a felicidade. Ou que, pelo menos, Trump irá fazer a vida negra aos seus adversários, que ele trata como inimigos. Seria uma espécie de vingança.

Entre os inimigos de Trump contam-se os juízes que têm levado este político a tribunal, pelos mais variados motivos. Multiplicam-se os casos judiciais envolvendo Trump. Com a habilidade que se lhe reconhece, Trump vitimiza-se e denuncia uma alegada “caça às bruxas”, assim ganhando mais popularidade.

Mas importa dar atenção ao tom que Trump emprega para se queixar da justiça do seu país e subir nas sondagens. É um tom de uma extrema agressividade, que raia o insulto aos magistrados envolvidos. Um tom que lembra o tempo em que, na Europa dos anos 20 e 30 no século passado, ascendiam ao poder nazis e fascistas, promovendo o culto da violência e acusando a democracia de ser um regime ultrapassado.

Trump não defende a democracia americana, combate-a. É coerente da parte de quem só aceita resultados eleitorais que lhe deem a vitória. Mas será que um tal regime ainda merece a qualificação de democrático? Não parece.

Esta recusa em aceitar resultados eleitorais desfavoráveis é seguida pelos seus fiéis, como é o caso de Bolsonaro, o ex-presidente brasileiro que há dias apoiou publicamente André Ventura e o seu partido Chega.

No plano internacional Trump quer agradar a ditadores como Putin, ao mesmo tempo que se dispõe a mandar para o caixote do lixo criações americanas como a NATO e a própria ONU. Sabe-se como Trump se vangloria de ir acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas – retirando aos ucranianos o apoio de Washington e oferecendo uma vitória à Rússia de Putin.

Além, claro, de Trump não valorizar a integração europeia, movimento que muito deve à diplomacia americana depois do fim da II guerra mundial. É duvidoso que a UE possa sobreviver a uma nova presidência de Trump. Daí que seja importante alertar para o que uma vitória de Trump na eleição de novembro poderá significar. Entre nós, as ideias de Trump – se é que se podem assim classificar - seriam muito pouco sintonizadas com as comemorações do cinquentenário do 25 de Abril e da restauração da democracia.