Vários militares acusados no chamado processo dos Comandos pediram a abertura de instrução, a qual vai decorrer no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, disseram à agência Lusa advogados de defesa.
As mesmas fontes admitem que nas próximas semanas deverão iniciar-se as diligências instrutórias.
A instrução é uma fase processual facultativa que visa a comprovação ou o arquivamento por um juiz da acusação da acusação do Ministério Público (MP), cabendo ao juiz decidir se leva ou não os arguidos a julgamento.
Em Junho, o MP acusou 19 militares no processo relativo à morte de dois recrutas dos Comandos e internamento de outros, considerando que os arguidos actuaram com "manifesto desprezo pelas consequências gravosas que provocaram nos ofendidos".
"Os princípios e valores pelos quais se regem os arguidos revelam desrespeito pela vida, dignidade e liberdade da pessoa humana, tratando os ofendidos como pessoas descartáveis", indica a acusação assinada pela procuradora Cândida Vilar.
A acusação refere que, ao sujeitarem os ofendidos a essa "penosidade física e psicológica" durante a recruta efectuada em Setembro de 2016, todos os arguidos sabiam que "excediam os limites" permitidos pela Constituição e pelo Estatuto dos Militares da Forças Armadas e "colocaram em risco a vida e a saúde dos ofendidos, o que aconteceu logo no primeiro dia de formação.
"Agiram todos os arguidos deliberada, livre e conscientemente. Sabiam que as suas condutas eram contrárias aos deveres do militar e disciplina militar e que eram proibidas pela lei penal", conclui a procuradora do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa.
Da lista dos 19 acusados por abuso de autoridade por ofensa à integridade física no processo desencadeado pela morte dos recrutas Hugo Abreu e Dylan Silva e pelo internamento de outros constam oito oficiais do Exército, oito sargentos e três Praças, todos do Regimento de Comandos.
Entre os acusados está o tenente-coronel Mário Maia, director da primeira prova (Prova Zero) do 127.º curso de Comandos, o capitão Rui Monteiro, Comandante da Companhia de Formação do mesmo curso, Miguel Domingues, capitão e médico responsável pela equipa sanitária, e o sargento enfermeiro João Coelho.
A acusação relata o racionamento de água e pormenoriza a actuação dos instrutores durante os exercícios, que provocaram lesões nos instruendos, concluindo que os arguidos praticaram tais factos sabendo que "provocavam graves lesões corporais nos ofendidos, de que resultou, em dois deles, a morte e criaram um ambiente de medo e de intimidação, sofrimento físico e psicológico nos ofendidos".
Dois recrutas morreram e vários outros receberam assistência hospitalar durante o treino do 127.º Curso de Comandos, na região de Alcochete, distrito de Setúbal, a 4 de Setembro de 2016.
No decurso do inquérito, o advogado Alexandre Lafayette, defensor de dois dos arguidos, apresentou queixa contra a procuradora do processo Cândida Vilar, e contra a directora do DIAP de Lisboa, Lucília Gago.