O candidato à Presidência da República Vitorino Silva aceitou a redução de deputados proposta pelo presidente do Chega no debate presidencial na RTP3, mas rejeitou críticas de André Ventura a cidadãos de etnia cigana, porque “não há portugueses de primeira, nem de segunda”.
No início do debate transmitido na RTP3, esta segunda-feira, André Ventura aproveitou para voltar a referir algumas das propostas defendidas pelo Chega, partido do qual é também o deputado único na Assembleia da República, entre as quais a redução do número de deputados de 230 para 100, o que implicaria uma revisão constitucional. Esta proposta tem também a concordância do fundador do RIR (Reagir, Incluir, Reciclar).
“O André [Ventura] quando diz que devia haver menos deputados, eu também concordo que não devia haver 230 deputados (…). Quando dizem que é ele [André Ventura] que falta mais, há muitos que faltam mais. Temos de acabar com aquelas pessoas que no fundo, no fundo, não estão, só está lá a cruzinha no mapa das presenças”, sustentou Vitorino Silva.
Os dirigentes do Chega e o RIR estiveram de acordo várias vezes ao longo do debate, mas a divergência principal surgiu quando André Ventura apontou críticas a uma alegada subsidiodependência dos cidadãos de etnia cigana, cuja erradicação deste suposto comportamento é uma das bandeiras do partido.
“O povo costuma dizer: um olho no burro e outro no cigano. Os ciganos não são burros, são pessoas. E eu gosto de falar não de etnias, mas de pessoas (…). Se for Presidente não vou ser Presidente de A, de B, daquela etnia... Vou ser Presidente de todos os portugueses, porque não há portugueses de primeira, nem de segunda. Somos todos iguais”, salientou Vitorino Silva, acrescentando que “há políticos que querem tirar a liberdade às pessoas” e que com isso não concorda.
“Mas eu não quero”, retorquiu imediatamente Ventura.
Vitorino Silva disse ainda que, apesar de haver “gente que vai sempre transgredir”, o Estado tem “é de apostar forte na fiscalização” da alegada subsidiodependência criticada pelo dirigente do Chega.
Questionado sobre o papel do Presidente da República a propósito das incorreções nas informações curriculares do procurador europeu José Guerra, André Ventura comentou que se fosse chefe de Estado daria um sinal ao Governo, liderado pelo socialista António Costa, de que a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, não tinha condições para continuar no cargo.
“O Presidente da República, perante isto que é mentir à União Europeia (UE), não há outra palavra, que credibilidade terá Portugal no futuro em outros concursos. O Presidente da República, se fosse eu, daria um sinal ao Governo e esse sinal seria que esta ministra da Justiça não pode ter mais espaço no Governo”, advogou o candidato.
Vitorino Silva não iria tão longe: “Cada macaco no seu galho. Não sou candidato [à Presidência da República] para mandar nenhum ministro para o desemprego.”
O dirigente do RIR considera que o primeiro-ministro é que “tem responsabilidade” nesta matéria e que a escolha que fizer terá influência nas próximas eleições legislativas.
Interpelados também sobre se o Chega é um ameaça para a democracia, André Ventura rejeitou perentoriamente esta ideia e defendeu que a exclusão de militantes que critiquem o partido ou os seus órgãos foi decidida para evitar “ofensas à honra de outras pessoas”.
Já Vitorino Silva disse que, se fosse eleito Presidente, não trabalharia no sentido de ilegalizar o partido de André Ventura.
A representação elitista associada às figuras políticas foi outro ponto de convergência entre ambos.
“Concordo com o que disse o Vitorino quando diz que, de facto, que há candidatos que representam as elites e temos nestas eleições alguns. Desde o candidato Marcelo Rebelo de Sousa à candidata Ana Gomes, há candidatos que não representam o povo”, comentou Ventura.
Vitorino Silva considerou estar mais próximo da população do que os adversários: “Os meus adversários são todos do povo, só que eu acho que sou mais povo.”
O debate, que o dirigente do RIR apelidou de “porreiro” e “tu cá tu lá”, destoou do primeiro que envolveu o presidente do Chega com o candidato presidencial apoiado pelo PCP, João Ferreira, marcado por interrupções sistemáticas de parte a parte.
“Assim é que deve ser em democracia, as pessoas não se devem interromper” criticou Vitorino Silva, enquanto André Ventura considerou que “este adversário tem mais qualidade e, por isso, é que o debate correu melhor”.
André Ventura voltou a defender uma aliança entre o Chega e o PSD, "por muito diferentes que sejam", mas quando foi questionado sobre se seria mais fácil conseguir entendimentos com o antigo presidente social-democrata Pedro Passos Coelho à frente do partido, o candidato hesitou durante alguns segundos e respondeu que não teceria comentários.
Já Vitorino Silva mostrou-se convicto de que iria conseguir vários votos na ala do PS, partido do qual já foi militante.
O fundador do RIR e recandidato presidencial também levou quatro pedras para o debate para fazer uma analogia sobre a diversidade de pessoas e de cores políticas envolvidas no 25 de Abril que permitiram que agora pudesse estar “a debater com quem pensa diferente”.
“Mas o mar não traz só pedras, o mar também traz pessoas e traz pessoas de todas as cores. Há muita gente que vem por esse mar à procura de terra, de um poiso firme, e às vezes criam muros. Eu também sou candidato para deitar esses muros abaixo, que para mim são clandestinos, que muita gente quer erguer”, completou.
Questionado sobre se se estava a referir a André Ventura e às propostas do Chega relativamente à imigração, Vitorino Silva não respondeu diretamente e preferiu dizer que “há muita coisa” em que concorda com o adversário.
No final do debate, Vitorino ofereceu estas quatro pedras a André Ventura.
Além de André Ventura e de Vitorino Silva, também são candidatos à Presidência da República o atual chefe de Estado Marcelo Rebelo de Sousa, Marisa Matias, Ana Gomes, Tiago Mayan Gonçalves e João Ferreira.
As eleições presidenciais estão agendadas para 24 de janeiro.