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Como muitos milhares de peregrinos, o padre João Costa, da diocese de Vila Real, a recuperar de Covid-19, não poderá estar presente neste 13 de Maio, na Cova da Iria. Desta vez é Fátima que vem até nós.
Nos olhos, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, junto à janela da residência paroquial, com vista para as encostas do Douro; nos ouvidos, a Rádio Renascença. Por estes dias, tem sido esta a companhia do padre João Costa, em quarentena obrigatória, depois de ter sido infetado pelo novo coronavírus.
Todos os colaboradores foram testados nos três centros paroquiais de que João Rodrigues da Costa é responsável, em Nogueira, Andrães e Vale de Nogueiras, na diocese de Vila Real. A "fava" saiu ao pároco: testado a 28 de abril, João Costa viria a saber, dois dias depois, que tinha acusado positivo para a Covid-19.
De então para cá, isolou-se na sua residência, em Nogueira, com vista para a pequena torre da igreja paroquial, numa quarentena só quebrada esta terça-feira, ao fim de 14 dias, para realizar um segundo teste, na expectativa de receber uma boa notícia. “O ideal seria amanhã, dia 13 de Maio. Vamos esperar e seja o que Deus quiser”, diz o sacerdote à Renascença, minutos depois de ter si testado no "drive-through" da Unidade de Triagem de Vila Real.
Surpreendido pelo telefonema da emissora católica - companhia diária de que não prescinde - o padre João Costa revela que não fora a "sua" Covid-19 e a limitação imposta no acesso ao Santuário, a esta hora já estaria em Fátima, juntamente com um grupo de 30 peregrinos.
“Seria a nossa terceira peregrinação”, na linha virtudes teologais, explica. “Este ano, seríamos peregrinos na Caridade com um coração como símbolo, muito em sintonia com o Santuário”, revela João Costa, para quem a “Caridade tem muito a ver com este momento único em que cada vez mais somos chamados a viver esta dimensão tão bonita e tão forte da nossa vida como cristãos”.
"Longe da vista, perto do coração"
“Desta vez é Fátima que vem até nós, até nossas casas, para que a tenhamos presente no coração”, diz o padre João Costa. É deste modo que encara este 13 de Maio, “uma peregrinação diferente, em que o tema proposto pelo Santuário - Peregrinos pelo Coração - pede reflexões, oração do terço e comunhão espiritual, uma comunhão também ela diferente e que tantas vezes valorizamos na peregrinação a pé”, enfatiza.
Não é a primeira vez que o pároco de Nogueira vive a peregrinação a Fátima distante do Santuário. “Já passei por esta experiência, quando estive como missionário no Chade e no Congo, mas, estando cá em Portugal, ela torna-se ainda mais forte”, confessa.
Mensagens inspiradorasde Fátima e do Vaticano
As reflexões do Papa Francisco, no contexto da pandemia que se abateu sobre o mundo, têm sido para o padre João Costa, “muito inspiradoras”.
O sacerdote faz notar que “o Papa deu-nos o exemplo desde o início. Este estar sozinho a rezar pela Humanidade, o estar presente em comunhão, com mensagens positivas, chamando os cristãos à responsabilidade, a rezar, partilhar e ser solidários, a tomar consciência dos dramas e alegrias da Humanidade, particularmente nesta situação que toda a gente está a viver, tem sido particularmente inspirador”, sublinha
Na mesma medida, Fátima também é inspiradora. “A mensagem tem um significado muito especial nestes dias. Quero pedir aos Pastorinhos e oferecer-lhes este sacrifício” diz o padre, esclarecendo que é de um sacrifício que se trata, obrigado que está despojar-se de gestos tão simples como “sair e estar presente nos centros paroquiais. Lembra, porém, o pároco que “Nossa Senhora pede-nos não apenas para oferecermos a exterioridade e aquilo que fazemos, mas para oferecermos os sacrifícios interiores daquilo que gostamos de fazer e que agora somos chamados a viver de maneira diferente”.
Santuário sem peregrinos é sinónimo de despojamento
Quando esta noite a Imagem de Nossa Senhora desfilar, no Santuário de Fátima, a tradicional procissão terá escassos participantes e menos velas, muito menos velas a acompanhá-la, alfo que João Costa interpreta à luz de “um sinal de despojamento, do despir-se de tudo aquilo que tantas vezes é a aparência do nosso mundo, da exterioridade que tantas vezes parece ser a única coisa que conta”.
Este é o momento da “interioridade, do mais importante, para que estejamos atentos ao que se passa no nosso coração, na nossa vida, no interior das nossas famílias e das nossas comunidades cristãs” assinala.
“Certamente que essa dimensão interior e espiritual sempre esteve presente e é visível no simbolismo das velas e nas lágrimas de muitos peregrinos, mas este ano somos convocados a viver essa dimensão em nossas casas."
De quarentena, mas sempre bem acompanhado
“Nunca senti a comunidade paroquial tão presente como agora, em que passo os dias ao telefone, a responder a mensagens, a acolher tantos gestos de muita amizade, também de crianças da catequese”, revela o padre João Costa, ao fim deste perído de isolamento.
"Todas estas atenções são sinais do valor da vida cristã”, diz o pároco de Nogueira, Andrães e Vale de Nogueiras sobre este gestos regista com apreço, na esperança de que muitas outras pessoas, igualmente isoladas pela doença e por tantas outras razões, possam ser alvo de idêntica generosidade.
O padre João Costa encontra-se assintomático, diz mesmo nunca ter sentido qualquer dos sintomas associados à Covid-19 e espera que o 13 de Maio lhe traga a boa notícia de que o novo coronavírus ficou para trás.
O momento é de rezar o terço e acompanhar as cerimónias pela Renascença, com o pensamento em Fátima. Desta vez, o Santuário resume-se a uma vela, a uma Imagem de Nossa Senhora de Fátima e a uma janela, com as encostas do Douro lá ao fundo. É quanto basta para encher o Coração.