As patrulhas do Exército já estão no terreno a vigiar as áreas com maior risco de incêndio, mas a participação dos militares no apoio ao combate aos fogos poderá vir a ser muito maior.
Mais de 1300 militares formados e bem equipados, 43 unidades em prontidão, comunicações a funcionar e um centro de comando e controlo de operações concentrado num só local. Está tudo a postos no Regimento de Apoio Militar de Emergência (RAME) em Abrantes, para fazer avançar os seus efetivos e equipamentos em caso de necessidade no apoio ao combate aos incêndios.
É essa a grande ameaça e é para ela que se preparou este regimento considerado a grande prioridade do Exército. É verdade que a participação dos militares sempre teve lugar, através dos famosos planos Lira, sendo vasta a experiência do Exército em operações de vigilância e rescaldo. Contudo, há um claro investimento que começou no ano passado mas que, nos últimos meses, ganhou importância e que é bem visível no RAME.
Nos incêndios do ano passado, o regimento de emergência passou por uma verdadeira prova de fogo. Houve dificuldades no terreno por falta de preparação ao nível do equipamento, com botas que se queimaram nos pés dos militares. Problemas que, segundo o comandante César Reis à Renascença, ”já estão resolvidos".
O responsável adianta que "o equipamento entregue aos militares é o que é projetado para estas situações, em termos de botas, capacetes, luvas 'dolmen' e ferramentas adequadas, resistentes para tirar o melhor rendimento no trabalho de rescaldo”. Por isso, garante, “o pessoal está bem equipado”.
RAME tem tudo
O Regimento de Apoio Militar de Emergência, situado em Abrantes, tem tudo: o comando e os operacionais.
É dali que se monitoriza tudo o que se passa no terreno. É dali que são dadas as ordens para a intervenção das patrulhas, mas também para a entrada em ação dos módulos para cada valência.
O coronel César Reis, comandante do RAME, refere que “por todo o país estão espalhadas 43 unidades para assegurar o apoio ao combate aos incêndios” e que "são muitas as valências do Exército que podem ser empenhadas no apoio ao combate aos fogos".
Essa prontidão, preparação e disponibilidade começam desde logo com "as patrulhas de vigilância, de rescaldo, mas também equipas de engenharia militar, apoio sanitário, manutenção e transportes, reabastecimento, entre outras", adianta. "Tudo isto pode ser utilizado caso a Autoridade Nacional de Proteção Civil o solicite.”
Em 2017, naquele que foi considerado o ano da prova de fogo para este regimento, tudo o que estava planeado foi cumprido a 100%, mas com muito esforço, a custo de “muitas horas na sala de comandos".
Por vezes, isso acontecia "com dias seguidos sem ir a casa”, como diz o primeiro sargento Rui Pires, um dos elementos na sala de comando e controlo do regimento de Abrantes.
Marcas de fogo
São momentos ainda difíceis de recordar também para Mariana Henriques, outra militar que, na mesma sala de comando, recorda com emoção à Renascença o dia 17 de Junho do ano passado. "Com o coração apertado", também ela deixou a família para ir "ajudar outras pessoas que naquele dia precisavam da ajuda”.
A tragédia dos incêndios de 2017 deixou marca nestes militares. Sente-se no regimento o peso da responsabilidade de não deixar nada ao acaso e uma das preocupações é, como não podia deixar de ser, as comunicações.
As falhas do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal), que tanto deram que falar, estão bem presentes quando se planeiam novas intervenções no combate aos incêndios.
Para que quem está no terreno não fique sem apoio, o coronel César Reis refere que “optou-se por pôr em prontidão meios redundantes, três formas de comunicar, que podem ser utilizados como o SIRESP, o VHF, que são comunicações militares, e as comunicações satélite. Isso traz alguma tranquilidade de que tudo vai correr bem a esse nível.”
Na sala de comando, rodeado por ecrãs, mapas e computadores, está também o major Paulo Alves, chefe do centro de operações do regimento de apoio militar do Exército. É ele quem faz o contacto regular com as patrulhas de vigilância que estão no terreno, ele quem garante que as comunicações “são frequentes e sempre registadas, desde que as viaturas saem das unidades até à hora em que regressam" - um "contacto que é essencial para que a missão seja bem sucedida”.
A capacidade do RAME é materializada na Unidade de Apoio Militar de Emergência. O grau de aprontamento depende das necessidades. Nesta altura é de 12 horas, diz o coronel César Reis, mas rapidamente pode baixar para 6 horas. É este o tempo mínimo que o regimento precisa para colocar os efetivos no terreno. Totalmente equipados e com unidades vindas de todo o país.