A exposição à publicidade a bebidas alcoólicas tem um forte impacto no consumo entre os jovens, revela um estudo europeu segundo o qual há um perigo à espreita nos meios digitais e a auto-regulação da indústria não funciona.
O estudo, publicado na revista científica “Addiction”, foi realizado por vários investigadores europeus e chama a atenção para o impacto que tem nos jovens o consumo de álcool, apontando que representa a principal causa de morte e incapacidade entre jovens do sexo masculino com idades entre os 15 e os 24 anos em quase todas as regiões do mundo.
O investigador Hilson Cunha Filho, do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, da Universidade Nova de Lisboa, disse à agência Lusa que “existe uma associação forte entre o marketing do álcool e a iniciação do consumo, principalmente nos jovens”.
“Essa exposição ao consumo de álcool que o marketing provoca leva esses jovens a terem um maior risco de desenvolverem um consumo excessivo e aquele consumo ‘binge’ [beber com o objectivo de ficar alcoolizado], que é o consumo de risco, de cinco ou mais bebidas em cada ocasião”, adiantou.
De acordo com o investigador, a exposição à publicidade ao álcool pode aumentar em 50% o risco deste tipo de comportamento, quando comparado com jovens que não vêem publicidade sobre bebidas alcoólicas.
Hilson Cunha Filho chamou também a atenção para as novas formas de publicidade, nomeadamente digital, que tem aumentado, apontando que a indústria se tem aproveitado desta ferramenta, já que não há regulação e “atinge muito mais violentamente os jovens”.
“Os jovens que estão expostos ao marketing digital têm desenvolvido muito mais fortemente níveis altos de consumo de álcool”, adiantou, acrescentando que quanto mais cedo as crianças e jovens são expostos a este tipo de publicidade, mais cedo começam a beber bebidas alcoólicas.
Auto-regulação não funciona
Especificamente no que diz respeito a Portugal, o investigador lembrou a legislação criada nos anos 2000, na sequência do Plano Acção Contra o Alcoolismo (PACA), que “nunca foi respeitada”, para defender que a auto-regulação não tem funcionado.
Apontou, a propósito, que até 2014, o protocolo de auto-regulação centrava-se apenas na comunicação televisiva e não abrangia publicidade de rua, por exemplo, ou promoções feitas em espectáculos ou festas académicas.
Para Hilson Cunha Filho, seria importante que Portugal apostasse numa regulação “mais forte e muito mais abrangente”, que envolvesse todos os meios de comunicação, e não só a televisão, e que fosse fiscalizada de forma correta.
“No futuro, podemos pensar num acordo global, ao nível da União Europeia, para haver uma proibição, uma restrição maior da publicidade, do patrocínio e da promoção de bebidas alcoólicas”, defendeu o investigador.
A investigação europeia defende mesmo que a resposta mais eficaz passa por uma “proibição completa da publicidade” e uma regulação feita por uma agência de saúde pública, independente da indústria do álcool.