O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, diz à Renascença que a Igreja Católica não prevê mexer nos critérios de admissão dos candidatos a novos sacerdotes na sequência da crise dos casos de abusos sexuais.
D. José Ornelas sustenta que a compreensão do fenómeno permite à Igreja responder melhor à questão, mas que se mantêm as orientações que são válidas para “todos os colaboradores da Igreja”.
“Esses critérios estão definidos para quem quer que seja, não só para os padres, mas para todos os colaboradores da Igreja que lidam com crianças. Porque a questão da pedofilia não é uma questão de padres”, ressalvou o também Bispo de Leiria-Fátima à margem do congresso internacional dedicado à problemática dos seminários que decorre, até sábado, em Braga.
“Quem lida com crianças deve ser gente com uma particular maturidade afetiva, humana e sexual”, defendeu D. José Ornelas. “Os critérios são estes e a Igreja vai crescendo na medida em que se vai compreendendo melhor o fenómeno e as formas de lidar com ele."
Já o reitor do Seminário Conciliar de Braga reconhece que o fenómeno dos abusos veio exigir mais atenção. O cónego Vitor Novais admite que há, agora, um “cuidado mais atento”.
“Cada vez mais está a existir mais cuidado”, reconheceu o responsável que deu o exemplo: “Quando um jovem deixa uma casa de formação numa determinada diocese, a sua aceitação noutra diocese está a implicar um cuidado mais atento”.
Para o responsável pelo Seminário São Pedro e São Paulo, da arquidiocese de Braga, um tema “tão delicado e importante” como o dos abusos sexuais “não pode ser descurado” porque “esta não é uma questão de moda”.
“É um tema que tem de ser levado de forma tão séria que não pode ser descurado e se tivermos de reforçar a atenção, não tenhamos medo”, defendeu. “Porque um caso que o seminário se apercebesse e não fizesse a sua missão já seria dano demais para a Igreja”, remata.
Um seminário como “uma casa com janelas abertas para o mundo, será muito melhor”.
Quanto à formação dos futuros sacerdotes, o cónego Vitor Novais considera ser “uma mais-valia” haver uma maior proximidade dos seminários às comunidades através, nomeadamente, da presença de leigos e de mulheres ao longo da formação dos seminaristas.
Estes são aspetos que “felizmente” já fazem parte “há bastante tempo” da realidade do seminário conciliar de Braga, revelou o reitor, defendendo que “tudo o que seja para tornar o seminário uma casa com janelas abertas para o mundo, será muito melhor”.
A maior abertura dos seminários à sociedade é uma das recomendações da CEP, que prepara um documento com orientações para a formação dos novos sacerdotes.
O documento intitulado “Ratio nationalis Institutionis Sacerdotalis: O Dom da Vocação Presbiteral”, que resulta da adaptação das indicações da Santa Sé à realidade portuguesa, pretende , sobretudo, a construção de uma Igreja mais sinodal, “construída por todos”, segundo indica D. José Ornelas.
O documento defende como “uma das dimensões fundamentais” a “noção de se trabalhar com e não se trabalhar sozinho”, explicou. Porque, acrescentou o bispo de Leiria-Fátima, “quando falamos de uma Igreja sinodal temos de pensar na participação de ministérios diferenciados em que não se concentra tudo numa única pessoa”.
“O seminário não pode ser a formação das elites. O seminário tem de se abrir a outros ministérios e outras formas de gestão da própria Igreja”, defendeu o presidente da CEP durante a sua intervenção no primeiro dia do congresso internacional sobre os seminários católicos, que assinala os 450 anos da fundação do Seminário Conciliar de Braga.