Um inquérito interno do Departamento de Estado americano critica severamente Hillary Clinton por ter usado um servidor privado para trocar emails durante os quatro anos em que desempenhou as funções de secretária de Estado, entre 2009 e 2013.
O inquérito, conduzido pelo inspector-geral do Departamento de Estado (equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros), foi entregue esta quarta-feira aos membros do Congresso e refere que não foi encontrada nenhuma prova de que Hillary Clinton tenha pedido autorização para utilizar um servidor privado em vez dos servidores oficiais do ministério. E sublinha que, se tal autorização tivesse sido pedida, não teria sido concedida.
Clinton “tinha a obrigação de discutir o uso de uma conta pessoal para as suas funções públicas” com os responsáveis pelos arquivos e pela segurança do Departamento de Estado, mas não o fez, diz o relatório do inspector-geral, cuja função é fiscalizar as práticas internas da Administração e zelar pelo cumprimento da legalidade.
Recorde-se que Hillary Clinton mandou instalar um servidor privado na sua casa dos arredores de Nova Iorque para poder trabalhar a partir dali, o que fez frequentemente durante os quatro anos em que foi secretária de Estado, no primeiro mandato de Barack Obama.
Uma prática que viola as regras da Administração americana, cujos membros são obrigados a usar sempre a rede oficial por duas razões essenciais: evitar pirataria informática que viole o sigilo das comunicações e garantir que tudo quanto é escrito fique nos arquivos oficiais e não possa ser subtraído ao escrutínio público.
O inquérito agora divulgado censura o próprio Departamento de Estado cujos responsáveis acusa de terem sido “lentos” a reconhecer os riscos de cibersegurança corridos e a necessidade de cumprir a lei. Os métodos usados “não foram apropriados para preservar documentos” nem para “obedecer às leis federais”, salienta.
Durante o período em que usou o servidor privado, Hillary Clinton trocou cerca de 30 mil emails, que não imprimiu nem encaminhou para a rede informática do Departamento de Estado quando cessou funções. Isso só sucedeu em Dezembro de 2014, quase dois anos mais tarde, depois de ter sido divulgado o uso do servidor privado e de ter sido muito pressionada para tornar tudo transparente. Além destes 30 mil emails, Hillary revelou que tinha trocado outros tantos emails de carácter privado e que os tinha apagado. No entanto, a selecção foi feita por ela própria, o que suscitou dúvidas e suspeitas na opinião pública.
Uma das questões mais delicadas prendia-se com a hipótese de ter havido informação confidencial e secreta a circular no seu sistema informático privado. O Departamento de Estado acabou por considerar que 2 mil desses emails eram informação “classificada” e a CIA, chamada também a averiguar o seu conteúdo, concluiu que 22 deles eram “top secret”.
Este inquérito do inspector-geral do Departamento de Estado agora divulgado era apenas um dos três em torno deste assunto. O mais aguardado é o que está a ser conduzido pelo FBI e que pode terminar com uma acusação formal a Hillary da prática de ilegalidades e a consequente chamada a tribunal. Não há qualquer data para conclusão desta investigação, mas um responsável do FBI reconheceu que estavam sob pressão intensa para a terminar e divulgar.
A pouco mais de cinco meses das eleições presidenciais, os adversários de Clinton depositam esperanças em que a investigação do FBI incrimine a ex-secretária de Estado e lhe crie uma situação embaraçosa na luta pela Casa Branca. Este é um caso que não vai sair da agenda política tão cedo e que claramente ensombra a candidatura de Hillary.
O facto de Hillary ter violado as regras da Administração durante quatro anos e se ter colocado numa situação eticamente reprovável, quando sabia que tais práticas eram condenáveis, é mais uma prova da arrogância de alguém que sempre se julgou acima da lei, argumentam os adversários da candidata democrática.
Uma convicção que não se limita ao campo republicano, já que as sondagens continuam a revelar que Hillary Clinton regista taxas altíssimas de desaprovação. No mais recente inquérito do “Washington Post”, 57% dos inquiridos desaprovam-na e no do “New York Times”, 64% dizem que ela não é honesta nem de confiança. Números muito semelhantes aos registados por Donald Trump, seu presumível adversário em Novembro, e muito distantes da taxa de popularidade que ela própria tinha quando deixou o Departamento de Estado – 66% dos americanos aprovavam então a sua acção política.