O ministro dos Negócios Estrangeiros português diz que são escassos e insatisfatórios os esclarecimentos das autoridades venezuelanas quanto à situação de, pelo menos, dez portugueses. São gestores de supermercados acusados de fraude, boicote económico e especulação de preços em produtos básicos
Augusto Santos Silva falava aos jornalistas na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, a propósito da detenção de portugueses e lusodescendentes gerentes de supermercados na Venezuela, que qualificou de "ofensiva das autoridades venezuelanas contra o setor da pequena e média distribuição", que exige uma reação com "firmeza" por parte de Portugal.
O ministro anunciou que vai encontrar-se, esta segunda-feira, com o seu homólogo venezuelano em Nova Iorque e que o secretário de Estado das Comunidades irá visitar a Venezuela no início de outubro “para reunir com as comunidades e com os empresários portugueses e para, 'in loco', aprofundar o nosso conhecimento e a nossa ação nesta situação", declarou.
Augusto Santos Silva tinha ao seu lado o Presidente da República que afirmou acompanhar e apoiar "todas as diligências do Governo" sobre esta matéria.
"Há uma sintonia total, quer na preocupação, quer naquilo que se pode ir fazendo para enfrentar uma situação que tem de ser tratada com toda a delicadeza, com todo o bom senso que as circunstâncias impõem", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado e o ministro dos Negócios Estrangeiros tinham estado num encontro com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no domingo à noite, já de madrugada em Lisboa.
Segundo o ministro, o Governo tem mantido contacto com as autoridades venezuelanas "desde quinta-feira passada, diariamente", mas os esclarecimentos prestados por estas "são muito escassos e muito insatisfatórios".
"Esta, do nosso ponto de vista, ofensiva das autoridades venezuelanas contra o setor da pequena e média distribuição põe diretamente em causa interesses portugueses. E, portanto, Portugal só pode reagir como está a reagir: com firmeza", defendeu.
Interrogado sobre a saída de portugueses e lusodescendentes da Venezuela, o ministro referiu que "não tem aumentado" e que a estimativa do Governo é que nos últimos dois anos "cerca de dez mil" tenham abandonado o país, "metade para Portugal, continente e, sobretudo, Região Autónoma da Madeira, e outros cerca de cinco mil para países limítrofes, o Panamá, o Brasil, a Colômbia".
O ministro realçou que na Venezuela vivem ainda "várias centenas de milhar" de portugueses, luso-venezuelanos e venezuelanos descendentes de portugueses, que enfrentam uma situação económica e social "muito grave", com "problemas de abastecimento básicos de alimentos ou medicamentos".