Chegaram à paróquia de Nuestra Señora del Carmen, no centro da cidade do Panamá, mais de 30 horas depois de terem descolado de Lisboa. Saíram de Portugal no domingo de manhã. Estiveram 10 horas em Nova Iorque, nos Estados Unidos, com temperaturas de sete graus negativos. Aterraram no Panamá em pleno verão.
“Estamos cansados, mas felizes por poder estar com o Papa Francisco”, confessa à Renascença Rita Rito, uma das 300 jovens portuguesas que participa na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o encontro que reúne milhares de jovens católicos de todo o mundo e que começa esta terça-feira, 22, no Panamá.
“Os peregrinos quando chegam ao destino – e basta olhar para Fátima – vêm fatigados. É normal. Caso contrário, não seriam peregrinos, mas turistas”, afirma Rita, de 23 anos, que viaja com o serviço da juventude do Patriarcado de Lisboa.
No pátio da paróquia, onde foram montadas pequenas tendas de distribuição de kits (cada jovem recebe uma mochila com guiões sobre a jornada e outros materiais), estão os restantes 29 portugueses que integram o grupo. Há quem prefira jogar com uma bola de papel improvisada, quem converse com outros peregrinos – a maioria vem da Guatemala – e quem prefira dormitar, encostado às bagagens. Choveu há pouco tempo – uns pingos tropicais que duraram pouco mais de cinco minutos. Está calor – às 9h da manhã o termómetro já ultrapassava os 30 graus – e sente-me humidade no ar.
Marco Tejera, coordenador do acolhimento nesta paróquia, conta que até ao fim da semana irão receber 1.200 jovens, a maioria do continente americano. “Este grupo de portugueses vai ficar alojado em casas panamianas. É também uma oportunidade para conhecerem a nossa cultura”, diz o responsável, explicando que outros peregrinos ficarão em escolas e pavilhões.
Rosa Carrasco é uma das voluntárias do evento. “Nem acredito que este dia chegou”, confessa a panamiana à Renascença. “Estamos há dois anos a preparar-nos. Nos últimos seis meses as reuniões foram mensais. Graças à JMJ estamos mais unidos”, explica a responsável pelo transporte dos bispos que dão catequeses naquela igreja. “Há uma equipa de 30 pessoas com a mesma missão na paróquia.”
Aos poucos, chegam as famílias que irão acolher estes portugueses até ao fim da jornada, no domingo, dia 27. Rita, Patrícia e Joana (todas do mesmo grupo) vão para casa de uma panamiana de 50 anos que, nesse dia, as levará a almoçar a um restaurante típico, onde comerão tamales, um prato feito à base de milho.
Nas ruas da cidade, começam a juntar-se peregrinos – muitos vêm da América Central e da América do Sul. Por ser em Janeiro – a JMJ decorre normalmente durante o Verão europeu – esperam-se menos peregrinos deste continente.
De acordo com a organização do evento, na missa de abertura, que tem lugar esta terça-feira às 18h locais (23h em Lisboa), são esperadas 150 mil pessoas. A celebração será presidida pelo arcebispo Metropolitano do Panamá, D. José Domingo Ulloa Mendieta. O Papa Francisco chega na quarta-feira, dia 23.
Porquê participar na JMJ?
Rita Rito está numa JMJ pela quarta vez. Esteve em Madrid (Espanha), em 2011, no Rio de Janeiro (Brasil), em 2013 e em Cracóvia (Polónia), em 2016. “É muito interessante verificar como a JMJ tem marcado a minha vida”, diz a jovem oriunda da paróquia do Souto, na Guarda, que vive em Lisboa há 5 anos, onde está envolvida na pastoral da Juventude Hospitaleira.
Quando esteve em Madrid, Rita Rito tinha acabado de ser crismada. “O tema da jornada 'Firmes na Fé, na Esperança e no Amor' fez todo o sentido. Andava numa fase de busca dos meus alicerces e daquilo que queria para a minha vida”, conta à Renascença.
Dois anos depois, foi ao Rio de Janeiro enquanto universitária. “Nessa altura, comecei a pensar fazer missão e, quando cheguei ao Brasil, deparei-me com o tema 'Ide e fazei discípulos entre as nações'”, diz. Em 2016, esteve oito meses em Moçambique.
Não ficaria por aqui este entrelaçado entre a vida de Rita e a JMJ. “Em Cracóvia, o Papa Francisco propôs-nos que refletíssemos sobre a misericórdia (“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”), numa fase em que a minha ligação à Juventude Hospitaleira me ajudou a descobrir a beleza de acolher o outro.”
Quando estava na Polónia recebeu a notícia da morte da avó. “Na perda da minha avó – vivida à distância – manifestou-se a misericórdia de Deus”, diz. Três anos depois, e prestes a embarcar para o Panamá, vê de novo no tema da Jornada um desafio. “Estou numa idade em que coloco questões vocacionais e o lema da JMJ ‘Eis aqui a serva do Senhor. Faça-me em mim segundo a tua palavra’ desafia-me ao compromisso. Como dizia D. Manuel Clemente num dos encontros de preparação, em Lisboa, é preciso também deixar que a vontade de Deus aconteça.”
Vasco Gonçalves, de 29 anos, também já esteve em quatro edições do encontro. É a ele que muitos dos estreantes dirigem as suas perguntas. “Faz parte da jornada estar disponível para o que acontecer, seja ter de dormir no chão durante uma semana, ou não conseguir entrar numa celebração, como me aconteceu em Madrid.” A sua vinda continua a interpelar amigos e colegas. “Alguns perguntam-me por que me sujeito a isto”. E explica: “Muitas vezes no dia-a-dia, nós, cristãos, sentimos que somos uma minoria. A JMJ dá-nos a dimensão da universidade da nossa fé. Aqui sentimos que somos um entre milhões de jovens que querem seguir Jesus”.