Cerca de dois terços das instalações de saúde de Gaza deixaram de funcionar devido aos ataques israelitas e falta de combustível, alertou esta terça-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS), que pediu a passagem segura de combustível e mantimentos.
No total, estão sem funcionar 46 dos 72 estabelecimentos de saúde - incluindo 12 dos 35 hospitais.
"Para além dos hospitais que tiveram de encerrar devido a danos e ataques, seis hospitais na Faixa de Gaza já fecharam por falta de combustível", afirmou a agência internacional em comunicado.
Algumas das instalações que aguardam o abastecimento de combustível da OMS no norte da Faixa de Gaza incluem o hospital Al Shifa, onde a ocupação das camas já ronda os 150 por cento, segundo a OMS.
Outros hospitais afetados pela necessidade de combustível incluem o Hospital da Indonésia, que "foi forçado a encerrar alguns serviços críticos na noite passada devido à falta de combustível e está agora a funcionar de forma limitada".
A OMS acrescenta ainda o Hospital da Amizade Turco, "o único hospital oncológico da Faixa de Gaza, que continua parcialmente operacional devido à falta de combustível, colocando em risco cerca de 2.000 doentes oncológicos".
Na nota, a OMS alerta para o facto de milhares de doentes vulneráveis correrem o risco de morte ou de complicações médicas devido ao encerramento de serviços críticos por falta de energia, "a menos que combustível vital e material de saúde adicional sejam urgentemente trazidos para Gaza".
"Receamos um aumento das taxas de mortalidade nas pessoas com doenças crónicas", alertou o diretor de emergências da OMS para o Médio Oriente, Rick Brennan.
O responsável sublinhou também o risco que correm, por exemplo, as cerca de 200 mulheres que dão à luz todos os dias em Gaza: "É de esperar que cerca de 15% delas sofram algum tipo de complicação", explicou, e numa rede de saúde tão perturbada é difícil que as mulheres sejam tratadas, por exemplo, de uma hemorragia durante o parto.
Situações semelhantes são vividas pelos doentes com problemas renais que necessitam de diálise e outros problemas crónicos, "que têm cada vez mais dificuldade em encontrar os serviços de que necessitam".
Tudo isto, disse, numa altura em que mais de 1,4 milhões de palestinianos em Gaza estão deslocados internamente, ou em que a água é um bem escasso: "Estão disponíveis entre um e três litros por pessoa por dia, quando o mínimo, de acordo com as normas internacionais, deveria ser de 15 litros", reiterou.
"Quase ninguém em Gaza conseguiu tomar um duche ou um banho nas últimas semanas", disse Brennan numa conferência de imprensa telefónica a partir do Cairo.
O responsável pela emergência regional recordou que as infeções respiratórias em Gaza, os surtos de diarreia e até os problemas de pele, como a sarna, estão a aumentar devido à falta de água e aos problemas de higiene generalizados.
A ajuda que entrou em Gaza através de 54 camiões nos últimos três dias permitiu à OMS entregar medicamentos a três hospitais, embora Brennan tenha lamentado que nada tenha podido ser entregue ao Hospital Turco de Gaza, o principal hospital de tratamento do cancro, por se encontrar numa das zonas mais atingidas pelos ataques.
"Algumas caixas de mantimentos foram levadas diretamente para as mesas de operações onde os médicos estavam a fazer cirurgias sem anestesia", disse.
Na nota, a OMS alertou para o facto de milhares de doentes vulneráveis estarem em risco de morte ou de complicações médicas devido ao encerramento de serviços críticos devido à falta de energia, "a menos que combustível para salvar vidas e material de saúde adicional sejam urgentemente entregues em Gaza".
A organização alertou para o facto de existirem 1.000 doentes dependentes de diálise, 130 bebés prematuros que necessitam de vários cuidados e doentes em cuidados intensivos ou que necessitam de cirurgia que "dependem de um fornecimento estável e ininterrupto de eletricidade para se manterem vivos".
Esta segunda-feira, a OMS, com o apoio da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), "entregou 34.000 litros de combustível a quatro grandes hospitais do sul de Gaza e ao Crescente Vermelho Palestiniano para manter os seus serviços de ambulância".
"No entanto, isto só é suficiente para manter as ambulâncias e as funções hospitalares críticas a funcionar durante pouco mais de 24 horas", alertou.
Nesta situação, a agência das Nações Unidas apelou a um cessar-fogo humanitário imediato para que os fornecimentos de saúde e o combustível possam ser distribuídos em segurança por toda a Faixa de Gaza.
Mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, foram mortas em Israel por homens do Hamas desde 07 de outubro, segundo as autoridades israelitas. Cerca de 220 israelitas, estrangeiros ou com dupla nacionalidade, também foram sequestrados por comandos do Hamas durante este ataque.
Segundo o exército israelita, cerca de 1.500 combatentes do Hamas foram mortos na contraofensiva que permitiu a Israel recuperar o controlo das áreas atacadas.
Na Faixa de Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, cerca de 5.800 palestinianos morreram em incessantes bombardeamentos realizados em retaliação pelo exército israelita.