Veja também:
- "Todos os bispos têm de atuar assim", diz arcebispo de Évora após afastar padre
- Abusos na Igreja. Diocese de Lisboa admite afastar padres do "exercício público do ministério"
- “Não fui feliz. A comunicação não foi adequada”, diz D. José Ornelas
- Abusos na Igreja. Quebrando o silêncio
Os padres denunciados por abusos deviam, "obviamente", ser suspensos preventivamente e "foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal", declarou esta quinta-feira o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em entrevista à RTP e ao Público.
Padres deviam ser suspensos preventivamente? “Isso é óbvio, mas além de ser óbvio é mais do que isso, que foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente considera que a Conferência Episcopal "ficou aquém em todos os pontos importantes", após a divulgação do relatório da Comissão Independente que apontou para quase cinco mil vítimas de abusos nas últimas décadas.
"Ficou aquém no tempo, demorou 20 dias a reagir numa coisa que era imediata. Conhecia o relatório antes, nomeou a comissão que fez o relatório, e depois comunicou que ia continuar a refletir por mais dois meses, Ficou aquém ao não assumir a responsabilidade. Para mim é o mais grave”, lamenta o católico Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado critica a Igreja Católica e considera que a instituição tem que responder pelos atos dos seus membros.
"Qualquer associação desportiva ou cultural, social, IPSS, Misericórdias, responde pelos atos que são individuais, legais e criminais dos seus membros, como é que não responde a Igreja Católica por atos praticados por quem, além de invocar o múnus da fé, é representante de uma Igreja, certificado, legitimado, mandatado na sua missão pastoral. Como? É incompreensível”, lamenta Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República também defende que a Igreja Católica ficou aquém nas "medidas preventivas relativamente àqueles que estão envolvidos na investigação criminal" e falhou na reparação das vítimas.
“Esteve aquém quanto à reparação. Não é que se diga que se pode reparar uma vida estragada. Há danos morais que respeitam a bens tão elevados que se sabe, mesmo nos tribunais em relação ao Direito criminal aplicável, que isso não consegue reconstituir aquilo que foi destruído, mas compensa. A Conferência Episcopal passou ao lado destes problemas todos e isso a mim, como Presidente da República, preocupa-me imenso."
Marcelo Rebelo de Sousa destaca a importância da Igreja Católica e das suas instituições para a sociedade portuguesa e apela a uma nova reflexão da Conferência Episcopal.
"A Conferência Episcopal falhou. Como Presidente da República a expectativa que havia era tão simples, era ser rápido, assumir a responsabilidade, tomar medidas preventivas e aceitar a reparação. E de repente é tudo ao contrário, em termos gerais, ou cada uma para seu lado. Eu pergunto: mas não houve ali um minuto, 20 dias de reflexão não chegaram. Mas enfim, é tão importante o papel da Igreja que agora não há nada como uma reflexão complementar para reencontrar o caminho que se perdeu nestes 20 dias”, apela o Presidente da República na entrevista à RTP e jornal Público.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt