Dois em cada 10 portugueses assumem que não tomariam um antidepressivo se lhes fosse prescrito. No entanto, 90% da população está disponível para ir a um psiquiatra, se aconselhada a fazê-lo.
São resultados de um inquérito para apurar como os portugueses encaram os tratamentos para a depressão, no âmbito do Dia Mundial do Cérebro, que se assinala este sábado, 22 de julho.
Por regiões, destaque para o Alentejo, onde 100% dos inquiridos afirmaram estar disponíveis para consultar um psiquiatra, sem constrangimentos. Esta é também a região do país com mais inquiridos (90,2%) a assumirem a toma de antidepressivos se necessário, embora 80,5% considerem que causam dependência.
Susana Almeida, médica psiquiatra, sublinha que no Alentejo o risco de suicídio é maior, “um grave e sério problema de saúde pública, inequivocamente associado a depressão não identificada ou não tratada”. É por isso “compreensível que os inquiridos desta região se tenham mostrado mais sensíveis à necessidade do correto diagnóstico e necessário tratamento. De igual modo se compreende que 90,2% tenham assumido tomar um antidepressivo, caso lhe fosse prescrito, independentemente de considerarem que causa dependência (80,5%).”
A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comum. Estima-se que uma em cada quatro pessoas vá sofrer de depressão, em algum momento da vida. Afeta cerca de 350 mil pessoas no mundo. Portugal destaca-se na Europa como um dos países com maior prevalência de doenças psiquiátricas
Terapêutica associada a vários efeitos indesejáveis
Este inquérito promovida pela farmacêutica Lundbeck, “A visão dos portugueses sobre a depressão”, procurou ainda perceber o que pensam os portugueses sobre as terapêuticas disponíveis.
Apesar da evolução do mercado, os inquiridos associam vários efeitos indesejáveis à toma de antidepressivos: sonolência (70,5%), dependência (64,9%), alterações de peso (47,2%), raciocínio mais lento (44,9%) e alterações na vida sexual (37,3%) são os mais citados.
Para Maria Moreno, médica psiquiatra, “o medo da Psiquiatria persiste. Os antidepressivos ainda têm rótulos errados”.
Esta médica garante ainda que “os antidepressivos não dão dependência (não têm essa capacidade). A maioria dos antidepressivos que prescrevemos, hoje em dia, são ativadores pelo que a sonolência não é de todo um efeito secundário comum.” Maria Moreno admite que muitos pacientes lhe dizem que não querem ficar “zombie”, ao que responde: “se fosse medicar alguém para ficar pior estaria a trabalhar muito mal.”
Segundo a psiquiatra, “o objetivo é a pessoa retomar a sua funcionalidade e maximizar o seu potencial. Os efeitos secundários vão surgir às vezes, mas é para isso que servem as consultas de seguimento – para chegarmos a uma medicação que melhora os sintomas e não provoca outros menos bons”.
O problema nestes tratamentos, explica, é que “o medo dos antidepressivos faz com que muitas vezes as pessoas abandonem a medicação antes do tempo e, por causa disso, haja recorrências”. Deve ser aplicada a mesma regra da toma dos antibióticos, levar a medicação até ao fim: há um tempo certo para iniciar a medicação e um tempo certo para a deixar”, diz.
Ainda segundo este inquérito, a mais de 1.200 portugueses, os mais jovens e as mulheres mostram ter mais conhecimento sobre a depressão. No entanto, são também os mais jovens (18 aos 24 anos) os mais céticos em relação à toma de antidepressivos, cerca de 30% diz que não tomaria se receitado.