“Bónus” ou “truque”? O primeiro-ministro, António Costa, e o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, trocaram esta quinta-feira críticas sobre os aumentos das pensões anunciados pelo Governo.
No debate de atualidade no Parlamento com a presença do primeiro-ministro, o PSD considerou que o Governo está a aplicar um corte de mil milhões nas pensões e não fala verdade aos portugueses.
Nas contas do líder parlamentar do PSD haverá uma perda de poder de compra de 40 euros nas pensões, porque a base para o aumento em 2024 será menor.
Na resposta, o primeiro-ministro declarou que os pensionistas sabem muito bem o que são cortes e aumentos.
“As pessoas sabem bem o que são cortes. Sabem que cortes é quando recebem 500 e no mês seguinte recebem 400. As pessoas também sabem o que é aumentos. Aumentos foi o que as pensões tiveram em 2016, 2017, 2018, 2019, 2020, 2021, 2022 vão ter em 2023 e, digo-lhe mais, vão voltar a ter em 2023 e 2024.”
“Só este ano, além da atualização de acordo com a fórmula, houve um aumento extraordinário de 10 euros para as pensões até dois IAS e meio, com retroativos em janeiro. Vai haver um complemento excecional correspondente a 50% da pensão de outubro. E em janeiro de 2023 cada um dos pensionistas já sabe qual vai ser o aumento. Em janeiro de 2024 nenhum pensionista receberá menos do que aquilo que recebeu em dezembro de 2023 e, portanto, haverá um novo aumento de 2023 para 2024”, argumentou.
António Costa afirma que “dividir aumento das pensões em dois não é cortar”, mas Joaquim Miranda Sarmento fala em “ilusão monetária”.
“É exatamente esse o truque da ilusão monetária. Os mil euros da pensão que deviam ser aumentados para 1.080 são aumentos para 1.040 e há uma perda de poder de compra de 40 euros, o que significa que aqueles mil deste ano, na realidade, passam a valer apenas 960 euros. E é com isso que os portugueses vão às compras, à bomba da gasolina e pagar a prestação da casa”, acusou o líder parlamentar do PSD.
Joaquim Miranda Sarmento perguntou depois ao primeiro-ministro porque é que na sua apresentação de setembro “não disse que dividir a pensão ia implicar uma base de cálculo mais baixa que em 2024, que o bónus afinal era um corte, porque recorreu a este truque em vez de contar a verdade aos portugueses?”
António Costa considera que “o Governo dividiu em dois o aumento do próximo ano e isso não é cortar. É manter o mesmo e pagar em dois momentos distintos”.
“No final de 2023 ninguém terá menos de pensão do que aquilo que teria se fosse aplicada estritamente a forma. Se houvesse algum truque eu tinha-me limitado a anunciar o suplemento extraordinário.”
O primeiro-ministro atacou uma proposta do PSD de criação de um vale alimentar para pessoas mais carenciadas.
“O PSD propôs quatro meses de vale alimentar de 40 euros para pensionistas até 1.108 euros… acima disso teriam recebido zero. Até 1.108 receberiam 160 euros em vales alimentares, porque o PSD não confia nos pensionistas e acho que o pensionista não pode decidir se vai despender os 160 euros na farmácia ou no supermercado. O PSD quer ser pai dos pensionistas e decreta que tem os 160 euros, mas só podem gastar em bens alimentares. O PSD acha que a peste grisalha não se sabe governar a si própria”, atirou António Costa.
O primeiro-ministro comparou as propostas do PSD e do Governo. “O tal pensionista com 1.108 euros do PSD receberia 160 euros de vale alimentar. Assim, com a medida aprovada na Assembleia da República por proposta do Governo vai receber 504 euros já em outubro. Em dinheiro não é em vale alimentar, e depois em janeiro terá o aumento de pensão de acordo com a fórmula.”