O Comité de Recurso da União Europeia (UE) deu, esta segunda-feira, “opinião positiva” à proposta de renovação por cinco anos do uso do glifosato, com uma maioria qualificada de 18 Estados-membros a favor e a abstenção de Portugal.
Portugal absteve-se na votação, mantendo, segundo fonte do Ministério da Agricultura, a posição assumida desde o início face ao herbicida, tendo a renovação da licença merecido voto positivo da Alemanha, Bulgária, Dinamarca, Eslovénia, Eslováquia, Espanha, Estónia, Finlândia, Holanda, Hungria, Irlanda, Letónia, Lituânia, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia e Suécia, que representam 65,71% da população dos 28.
Áustria, Bélgica, Chipre, Croácia, França, Grécia, Itália, Luxemburgo e Malta votaram contra, com o peso de 32,26% da população da UE.
“O voto de hoje mostra que quando todos queremos, somos capazes de partilhar e de aceitar a nossa responsabilidade colectiva no processo de decisão, disse o comissário europeu para a Saúde, Vytenis Andriukaitis, segundo um comunicado.
A prorrogação por cinco anos da licença do herbicida - usado na agricultura - teve 18 votos a favor, nove contra e uma abstenção, tendo sido reunida uma maioria qualificada de 55% dos países da UE, que representem, pelo menos, 65% do total da sua população.
O executivo comunitário adiantou que adoptará a decisão depois de 15 de Dezembro, data em que caduca a actual licença do glifosato.
O Comité de Recurso é uma instância destinada a apoiar a tomada de decisões em casos sensíveis e problemáticos.
Medida "absolutamente infeliz"
O uso do glifosato na agricultura, mas também nos espaços verdes cuidados pelas autarquias, tem sido fortemente contestado pelas associações ambientalistas pelas alegadas substâncias cancerígenas que deixa na natureza.
Em declarações à Renascença, Natacha Cingotti, do gabinete de políticas de saúde e química da organização não-governamental Aliança da Saúde e do Ambiente, considera que a decisão aprovada hoje é “absolutamente infeliz”.
“Foram totalmente ignoradas as preocupações sobre o impacto que o glifosato tem nas casas das pessoas. Foi também ignorado o acordo democrático feito no Parlamento Europeu que exigia a restrição total de glifosato em 2022.”
A ambientalista gostava que tivessem ouvido o parlamento, os cidadãos, os cientistas e as organizações para que retirassem o glifosato.
Natacha Cingotti diz que esta decisão desincentiva o início da transição para que hajam práticas agrícolas mais sustentáveis.
“Vamos continuar a ter herbicidas nos mercados mais famosos da Europa. Foram assim cortados novos incentivos para mudar. Esta decisão desincentiva o início de uma transição para práticas agrícolas mais sustentáveis”, afirma a ambientalista.
[notícia actualizada às 20h04]