O contingente militar português no Iraque, país que está no centro de um conflito entre Estados Unidos e Irão, desempenha a sua missão na Base de Besmayah, situada a 50 quilómetros de Bagdad.
Um total de 35 militares portugueses participam em ações de formação das forças armadas iraquianas, que nos últimos anos têm lutado contra os terroristas do Estado Islâmico.
O treino nas áreas da liderança, armamento, tiro, combate em áreas edificadas, planeamento de operações militares e inativação de engenhos explosivos são as missões dos portugueses.
Com uma área de 308 quilómetros quadrados, o campo Grã Capitan, comandando pelo contingente espanhol, tem 22 carreiras de tiro e instalações de treino em várias áreas e especialidades, na base de Besmayah.
O primeiro-ministro português visitou o campo antes do Natal. António Costa elogiou o contributo dos militares portugueses em missões externas para o prestígio internacional do país e para a segurança coletiva, considerando vital que as ameaças sejam combatidas nos seus focos de origem.
Ao todo, em 10 contingentes nacionais naquele país, já estiveram empenhados 330 militares, desde maio de 2015. A permanência da força portuguesa no Iraque será reavaliada este ano, segundo a programação do Governo português.
Besmayah não é um alvo, mas segurança foi reforçada
Em declarações esta terça-feira à agência Lusa, antes dos ataques do Irão contra as bases de Al-Asad e Erbil, o chefe do Estado-Maior do Comando Conjunto para as Operações Militares, Marco Serronha, garantia que a base de Besmayah não é considerada um alvo.
No entanto, após o assassínio do general iraniano Qassem Soleiman, sexta-feira passada num ataque aéreo norte-americano, junto ao aeroporto de Bagdad, foram reforçadas as medidas de segurança na base militar onde estão desde novembro 35 militares portugueses (34 na operação da coligação multinacional Inherent Resolve e uma major na missão da NATO).
“O risco é alto, já o era antes destes eventos”, disse Marco Serronha, destacando que, em termos de segurança, a base de Besmayah tem a seu favor o facto de estar “longe da confusão”, a 50 quilómetros da capital e de não ter unidades norte-americanas, mas apenas “alguns militares norte-americanos que estão no serviço postal americano”.
“Não é um alvo, não está dentro de Bagdad, não está na zona verde”, sublinhou. Apesar disso, o avolumar das tensões na região justificou o reforço da segurança no campo que é comandando pelo contingente espanhol na coligação internacional e que conta com 500 efetivos.
“A única alteração em termos de medidas de segurança que houve foi um reforço da proteção individual, com os coletes à prova de bala envergados e os capacetes na cabeça”. Quanto à guarda do campo, sob a responsabilidade dos espanhóis, “está no dispositivo máximo”, com mais vigilância nos controlos e a força de reação rápida "preparada para alguma coisa".
O general português sublinhou que os “alvos mais apetecíveis das milícias xiitas são os norte-americanos”, ressalvando que, apesar do risco ser elevado, a probabilidade não é elevada.
“De qualquer forma nós sabemos que as coisas evoluem de um momento para o outro. Em termos de segurança física das pessoas estamos preparados para a pior hipótese”, disse, explicando que “em termos de planeamento militar é sempre assim”.
Dentro da base, os militares portugueses “só se movimentam na rua, fora da área protegida, para ir almoçar ou para ir para o escritório. O pessoal não anda a passarinhar. Não se espera que haja nenhuma morteirada ou `rocket´ lá para dentro, mas nunca se sabe”, disse, admitindo que as famílias dos militares têm manifestado preocupação.
“Os nossos militares estão serenos, já mais difícil é acalmar as famílias, temos feito um esforço nesse sentido. Não escondemos nada mas Besmayah (…) está longe do olho do furacão”, frisou.
“Neste momento estão em `stand-by´, aproveitam para ir fazendo ações de planeamento e de preparação das formações posteriores que estão previstas e estão dentro das bases à espera que isto se clarifique mais um bocadinho e ver se as forças iraquianas querem retomar o processo ou se há um divórcio, passe a expressão, entre a comunidade multinacional e o Iraque e aí terá de haver uma decisão”, disse.
Na segunda-feira, o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, tinha dito que se espera nos próximos dias, “duas a três semanas” mais desenvolvimentos e uma definição sobre se a missão de formação e treino da operação “Inherent Resolve” vai continuar.
Quanto à possibilidade de uma retirada norte-americana unilateral, Marco Serronha considerou que “ia ser uma complicação” para o Iraque e para a presença internacional no país, já que as forças dos EUA constituem um “pilar fundamental” em termos de segurança das unidades da coligação multinacional.
Se for “nitidamente demonstrado pelas autoridades iraquianas que não estão interessados em prosseguir a formação” e for decidido pôr fim à missão de treino da coligação internacional terá de ser programada uma retração que, no caso da base de Besmayah, está a cargo do comando espanhol, incluindo os militares portugueses, adiantou.
E se for preciso uma evacuação de emergência e “for dada a ordem, o sistema funciona, os aviões hão de aterrar no aeroporto de Bagdad”, disse.