A candidata presidencial Ana Gomes voltou este sábado a acusar o atual chefe de Estado de ter “minado” uma requisição civil dos privados na saúde, responsabilizando Marcelo por nem todos os meios humanos e físicos estarem a ser aproveitados.
No final de uma visita às instalações do INEM em Coimbra, a candidata admitiu estar preocupada com os números crescentes de casos e óbitos devido à Covid-19, e recordou que deve ter sido a primeira candidata a falar na necessidade de requisição civil dos privados e do setor social.
“Foi o professor Marcelo Rebelo de Sousa que, de facto, minou, impediu uma melhor negociação do Estado com os privados”, acusou.
Ana Gomes considerou que a requisição civil dos privados “a custo justo” foi prejudicada por o atual Presidente da República e recandidato ao cargo ter dado “palco e força aos privados contra a decisão e intenções da ministra da Saúde”.
“Isto tem de ser dito e os portugueses têm de saber isto: foi o professor Marcelo Rebelo de Sousa que, ao impor no próprio decreto presidencial que o Estado devesse procurar antes acordos com os privados em vez de imediatamente avançar para a requisição civil a custo justo, também determinou que, até hoje, a capacidade instalada não esteja a ser totalmente aproveitada e os recursos humanos também não estejam a ser totalmente mobilizados”, afirmou.
Além da saúde, a manhã de campanha de Ana Gomes teve ainda uma ação na área da educação, que não estava inicialmente prevista na agenda, uma reunião com a Associação Académica de Coimbra (AAC), no final da qual recebeu o apoio do vice-presidente da Câmara e líder da concelhia do PS, Carlos Cidade.
Neste encontro, que decorreu num jardim interior, Ana Gomes aproveitou estar ao AR livre para tirar a máscara e associar-se, uma vez mais, à iniciativa Vermelho em Belém, de apoio à sua adversária na corrida presidencial, Marisa Matias, contra os insultos do também candidato André Ventura.
“Vou aproveitar e por um bâton vermelho, nos dias que correm, não acham meninas?”, perguntou, enquanto pintava os lábios, sem recurso a espelho, o que disse ser fruto de uma “experiência de 50 anos”.
Antes, em declarações aos jornalistas, a candidata tinha já desafiado Marcelo Rebelo de Sousa a pronunciar-se sobre “estes ataques machistas indignos e incompatíveis” com os valores da República.
Questionada sobre a abolição das propinas reivindicada pela AAC, Ana Gomes manifestou a sua concordância, dizendo tratar-se de “dar cumprimento ao que está previsto na Constituição”.
“Há formas de apoiar o ensino público que se podiam resolver se o Estado se mobilizasse para ir buscar recursos, por exemplo, aos ‘off sore’”, disse.
A outro dos desafios dos estudantes a todos os candidatos presidenciais de incluir um jovem no Conselho de Estado, órgão consultivo do Presidente, Ana Gomes diz que o seu programa prevê ir mais longe, criando um Conselho de Jovens permanente em Belém.
Ana Gomes congratulou-se que os estudantes de Coimbra tivessem realçado entre as suas preocupações a defesa de princípios inscritos na Constituição.
“Quem elegemos Presidente da República não é só para andar aos beijinhos e abraços, nem para falar de umas coisas e não falar de outras, mas para usar os poderes que a Constituição confere”, referiu Ana Gomes, antes de vestir, no final da reunião, a capa que lhe foi entregue pelos estudantes.
A manhã de campanha da ex-eurodeputada do PS tinha começado na Figueira da Foz, no distrito de Coimbra, onde lhe foi apresentado um projeto para combater a erosão costeira neste município.
À iniciativa, que decorreu com uma associação ambientalista no terraço de um hotel da Figueira com vista para a zona afetada, chegou mais tarde o presidente da Câmara, Carlos Monteiro.
O autarca justificou ter estado a tratar de questões relacionadas com o voto antecipado de domingo, mas não quis ainda revelar se o seu será para Ana Gomes.
“A senhora embaixadora está dentro dos candidatos que defendem a democracia, igualdade. Seria ou será uma candidata em que não tenho o mínimo problema em votar”, afirmou, dizendo que “há um conjunto de candidatos que merecem” o voto, excluindo os que não defendem direitos fundamentais.