A coordenadora do BE, Catarina Martins, considerou este sábado que as declarações do antigo Presidente da República Cavaco Silva sobre o SNS são "uma autocrítica" à lei de bases que então defendeu, apontando-lhe um problema de "colagem com a realidade".
Cavaco Silva afirmou hoje que Portugal vive "numa situação de democracia amordaçada" e considerou que causam "vergonha" os números recentes da pandemia, falando de um Serviço Nacional de Saúde (SNS) "fragilizado por decisões erradas e graves" por parte do "governo da geringonça".
"Presumo que Cavaco Silva está a fazer uma autocrítica, uma vez que durante décadas vigorou uma lei de bases que o PSD quis e que Cavaco Silva quis, uma lei de bases que obrigava o Estado a financiar o setor privado da saúde, com prejuízo do desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde", respondeu Catarina Martins aos jornalistas, durante a conferência de imprensa após a Mesa Nacional do BE de hoje. .
Apesar de, precisamente no Governo da "Geringonça", se ter conseguido revogar essa lei de bases de saúde, a líder do BE considerou que "não é num ano ou dois que se resolve um problema que já tinha umas décadas", porque a anterior lei "criou uma enorme fragilização do Serviço Nacional de Saúde".
Questionada sobre as críticas de Cavaco de que Portugal vive uma "situação de uma democracia amordaçada", Catarina Martins começou por ressalvar que se exige "algum respeito institucional por ex-Presidentes da República".
"Mas as nossas divergências são tão grandes que eu tenho até dificuldade em perceber sequer a que é que se refere. Julgo que há um problema até de colagem com a realidade", apontou.
Concretamente sobre as críticas ao anterior Governo minoritário do PS, apoiado no parlamento por toda a esquerda, a líder do BE considerou não haver "nenhuma novidade". .
"Eu tenho dificuldade em encontrar algo para comentar sobre algo em que não vejo mesmo nenhuma novidade", disse apenas.
O antigo primeiro-ministro e antigo chefe de Estado fez, em pouco menos de meia hora numa participação, por videoconferência, na Academia de Formação Política das Mulheres Sociais-Democratas, duros ataques ao Governo, quer na gestão na pandemia, quer na relação com as entidades independentes quer até no processo de construção europeia, alertando que Portugal poderá ser ultrapassado por todos os países da zona euro em poucos anos.
"É surpreendente a frequência com que ouvimos e lemos notícias que nos deixam com uma certa ideia de que o país se encontra numa situação de democracia amordaçada", criticou Cavaco Silva.