Presos, torturados e mortos. Conheça a história dos sete beatos greco-católicos
02-06-2019 - 13:03
 • Aura Miguel , enviada especial à Roménia

Bispos recusaram-se a pactuar com o regime comunista e, por causa da sua fidelidade ao Papa, foram presos, cruelmente torturados e mortos.

O Papa beatificou este domingo sete bispos greco-católicos, no Campo da Liberdade, em Blaj, centro histórico da Igreja greco-católica da Roménia.

Francisco lembrou as provações pelas quais passaram e considerou que “estes pastores, mártires da fé, recuperaram e deixaram ao povo romeno uma preciosa herança que podemos resumir em duas palavras: liberdade e misericórdia”.

Os sete bispos recusaram-se a pactuar com o regime comunista e, por causa da sua fidelidade ao Papa, foram presos, cruelmente torturados e mortos.

Em 1946, Stalin decretou a eliminação da Igreja Católica de rito oriental na Ucrânia e, em 1947, avança com novos decretos para eliminar a Igreja greco-católica nos países da Europa do leste da esfera soviética e consequente anexação dos fieis e seus pastores na igreja fiel ao patriarca de Moscovo. Quem se recusou foi perseguido pelo regime comunista e preso, torturado e morto. A Roménia não foi exceção.

Os sacerdotes e bispos foram todos presos em 28 de outubro de 1948, passaram pelas mesmas prisões e locais de tortura, incluindo o mosteiro de Caldarusani, adaptado para campo de concentração.

Este domingo, Francisco beatificou sete bispos, um deles cardeal, juntando-os assim à imensa lista dos mártires do século XX, vítimas do comunismo.

Valeriu Frentiu (1875-1952), bispo de Orade

Foi preso e torturado. Quatro anos depois, não resistiu às crueldades sofridas. Foi sepultado de noite, sem caixão, numa vala comum no cemitério dos indigentes, para evitar eventuais peregrinações ao seu túmulo.

Ioan Balan (1880-1959), bispo de Lugoj

Após oito anos passados em diversos cárceres, em 1956, foi-lhe imposto isolamento obrigatório no mosteiro de Ciorogarla. Morreu num hospital de Bucareste, sem nunca ter sido formalmente condenado, nem submetido a julgamento.

Alexandru Rosu (1884-1963), bispo de Maramures

Sobreviveu a nove anos de torturas, nas várias prisões por onde passou. Só em 1957 foi formalmente condenado a 25 anos de prisão por alta traição. Morreu em 1963 e foi sepultado sem rito religioso, na vala comum do cárcere onde morreu.

Card. Iuliu Hossu (1885-1970), bispo de Cluj-Gherla

Passou 22 anos na prisão. Morreu a 28 de maio de 1970, num hospital de Bucareste. As suas últimas palavras foram: “a minha batalha terminou, a vossa continua”. Em 1969, Paulo VI criou-o cardeal “in pectore”, o primeiro na história da Roménia. O seu nome só viria a ser revelado, três anos depois da sua morte, pelo próprio Paulo VI, em 1973.

Vasile Aftenie (1899-1959), bispo de Ulpiana

Em 1948 recusou o convite do regime a “converter-se” para se tornar Patriarca ortodoxo de Bucareste, respondendo: “nem a minha fé, nem a minha Nação estão à venda”. Após 11 anos de sofrimento, morreu no cárcere e foi sepultado num cemitério de Bucareste. Dias depois, alguns fiéis celebraram, clandestinamente durante a noite, as exéquias religiosas.

Tit Liviu Chinezu (1904-1955), bispo auxiliar de Alba Iulia e Faragas

Integrou o grupo de 25 sacerdotes greco-católicos, presos em 1948 e levados para o mesmo cárcere onde já estavam alguns prelados. Em 1949, foi ordenado bispo clandestinamente por outros bispos prisioneiros. Sofreu pesadas penas, com trabalhos forçados, fome, sede e outras torturas. Nunca se lamentou. Morreu de frio, doente e sem roupa, numa cela isolada. Nunca foi formalmente condenado nem submetido a julgamento.

Ioan Suciu (1907-1953), admnistrador apostólico de Alba Iulia e Faragas

Após uma série de conferências sobre a incompatibilidade entre o cristianismo e o materialismo ateu, foi preso juntamente com os outros bispos, em 1948. Dois anos depois, foi transferido para outro cárcere onde sofreu fome, frio, várias doenças e torturas. Morreu na cela 44 dessa prisão e desconhece-se, até hoje, o lugar exato onde foi sepultado.

Conseguiu escrever na prisão algumas cartas aos fiéis: “Para a Igreja Romena Unida (ao Papa), chegou a Sexta-feira Santa. Agora, caros fiéis, chegou a ocasião de mostrar se pertencemos a Cristo, ou se estamos do lado de Judas, o traidor… Não se deixem enganar por palavras vãs, comités, promessas, mentiras, mas permaneçam firmes na fé. Não podemos vender Cristo nem a Igreja”.

Estas palavras ecoaram no Coliseu de Roma a 7 de maio de 2000, na celebração sobre os mártires da fé presidida pelo Papa São João Paulo II.