Um dos casos judiciais (e político) mais surpreendentes em Portugal, nos últimos anos, acaba de ter novos desenvolvimentos que não deixam de o tornar, pelo menos numa primeira análise, mais caricato. Depois de o ministro da Defesa ter sugerido que pode nem ter havido furto, agora, a PGR parece acreditar que também não houve recuperação.
Os factos conhecidos esta terça-feira têm a ver não com o desaparecimento das armas de Tancos, mas sim com o seu “aparecimento” na Chamusca - um aparecimento parcial e com direito a "brinde".
Onde andam as armas furtadas de Tancos? Essa é a questão a que ninguém parece saber responder. Mas há coisas que sabemos.
Furto
O furto de material militar da base militar de Tancos ocorreu antes do dia 28 de junho de 2017, tendo sido detetado nesse dia por uma patrulha de rotina que detetou as portas de dois paiolins arrombadas e o perímetro de segurança violado.
O que foi furtado?
Uma primeira lista indicava que tinham sido levadas granadas de mão ofensivas e munições de calibre 9 mm, acrescentando que a lista não estava fechada. Dias depois a gravidade do assalto tornava-se mais evidente, com a divulgação de uma lista completa que incluía explosivos e granadas foguete antitanque carro 66 mm, explosivos plásticos e outros.
Surgiram então várias contradições, com alguns responsáveis a dizer que o material furtado estava obsoleto e outros a indicar que o roubo era razão para alarme, representando perigo para a segurança nacional.
O ministro das Forças Armadas deu até uma entrevista em que sugeriu que “no limite” poderia nem ter havido roubo.
Material recuperado
Mais de três meses depois, no dia 18 de outubro, a Polícia Judiciária Militar anunciou a recuperação do material furtado. Curiosamente, para além de quase todo o material recuperado, exceto as munições de 9 mm, o chefe do Estado-maior do Exército, Rovisco Duarte, disse que tinha aparecido uma caixa de petardos a mais, que não constava da lista do que tinha sido subtraído aos paióis de Tancos.
O material foi encontrado numa herdade na Chamusca, depois de uma chamada anónima.
Mas será que foi?
Quase um ano depois de o material ter reaparecido, eis que se dá um golpe palaciano. A procuradoria-geral da República anuncia que existem mandados de detenção para oito pessoas, incluindo o diretor da Polícia Judiciária Militar, outros três agentes da PJM, três elementos do núcleo de investigação criminal do Destacamento de Loulé da GNR e um outro suspeito.
Os alvos dos mandados de detenção são suspeitos de terem praticados factos “suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”.
Curiosamente o comunicado da PGR diz que esta investigação tem a ver não com o desaparecimento das armas de Tancos, mas sim com o seu “aparecimento” na Chamusca. Isto é, parece haver suspeitas sobre a forma como o material militar foi recuperado ou até se foi recuperado, pela Polícia Judiciária Militar.