O chefe da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) alertou que as armas enviadas para a Ucrânia após a invasão da Rússia podem acabar na “economia global oculta” e nas “mãos de criminosos”.
“Assim que as armas se calarem [na Ucrânia], as armas ilegais virão. Isto é coincidente com outros teatros de conflito. Os criminosos estão mesmo agora, enquanto falamos, a concentrar-se nesse objetivo”, disse em entrevista à Press Association, citada pelo The Guardian.
Segundo Jürgen Stock, “os grupos criminosos tentam explorar estas situações caóticas e a disponibilidade de armas, incluindo as armas pesadas utilizadas pelos militares”, por isso, apela à “cooperação dos Estados-membros no acompanhamento e vigilância de armas”.
“Estas vão estar disponíveis no mercado negro e vão criar um desafio. Nenhum país ou região pode lidar com isso isoladamente porque estes grupos operam a nível global”, sublinhou o alemão de 62 anos.
De acordo com Stock, a Europa deve esperar um “fluxo de armas” que podem ser “traficadas não só para países vizinhos da Ucrânia, mas também para outros continentes”.
O secretário-geral revelou ainda que a Interpol já instou os países membros a utilizarem a sua base de dados para ajudar a “localizar e vigiar” as armas.
“Os criminosos estão interessados em todos os tipos de armas... basicamente quaisquer armas que possam ser transportadas podem ser utilizadas para fins criminosos”, enfatizou.
Os aliados ocidentais da Ucrânia têm enviado carregamentos de armas militares de alta gama para a Ucrânia desde a invasão russa, há precisamente 100 dias.
Nesta entrevista que concedeu à Press Association em Paris, Stock adiantou ainda que que o conflito também tem conduzido a um crescimento do roubo de fertilizantes, em grande escala, e a um aumento de agroquímicos falsificados.
Embora a Interpol não esteja a investigar alegados crimes de guerra, uma vez que está proibida pela sua constituição de se envolver em atividades políticas, Jürgen Stock revelou que a organização recebeu um pedido da Ucrânia para ajudar na identificação das pessoas mortas no conflito.
“Os nossos canais de comunicação permanecem abertos [aos países membros] para um intercâmbio de informações sobre crimes de guerra. Mas não estamos a analisar crimes de guerra; a Interpol não tem poderes de investigação”, disse.