O Hospital de Santa Maria anunciou esta sexta-feira que vai deixar de receber doentes "sem razões clínicas" no Serviço de Urgência, mas vai continuar a receber doentes "urgentes e emergentes" encaminhados por outros hospitais ou pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU).
João Gouveia declarou, em conferência de imprensa, que "todos os doentes de outros hospitais, de outras áreas, que não venham referenciados de outros hospitais ou do CODU, não vão ser atendidos neste hospital, porque nós não temos capacidade para conseguir garantir que os doentes que necessitam de nós vão ser atendidos".
O diretor do Serviço de Urgência Central do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte sublinhou que "os doentes críticos devem chegar pelo CODU" e não "pelo seu próprio pé". "É uma questão básica de literacia em saúde. Não é seguro trazer as pessoas de outra maneira", apontou.
"Há várias estruturas que funcionam e devem funcionar antes das urgências hospitalares, e só devem vir às urgências hospitalares no Hospital Central Universitário as que necessitam desse mesmo hospital", reiterou, confirmando que os doentes que cheguem ao Santa Maria sem o encaminhamento devido vão ser enviados para outros hospitais.
O responsável clínico do Hospital de Santa Maria explicou que a decisão se deve a uma "grande afluência contínua de doentes, que dificulta bastante" a atividade do Hospital.
Na segunda-feira, disse, "mais de 700 doentes" acorreram ao Serviço de Urgência da unidade de saúde. Destes, "mais de 300" eram de fora da área de serviço do Hospital de Santa Maria.
João Gouveia referiu especificamente o encerramento e condicionamentos das urgências nos hospitais Fernando Fonseca (que serve os concelhos de Amadora e Sintra) e do Centro Hospitalar do Oeste como fatores do aumento da afluência, e referiu que "é impossível o hospital responder sozinho a este problema".
Sobre a questão das entregas de escusa, pelos médicos, a fazer horas extraordinárias acima das 150 permitidas pela lei, o diretor do Serviço de Urgência esclareceu que já são dez os cirurgiões que o fizeram, mas criticou a forma de funcionamento do Serviço Nacional de Saúde.
"O que se passa é que vai ter que se começar a fazer horários sem contar com as horas extraordinárias, porque não faz sentido nenhum que toda a atividade do Serviço Nacional de Saúde seja feita com base em horas extraordinárias", criticou João Gouveia. Esta segunda-feira, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, declarou que o SNS "não vai funcionar" sem estas horas extraordinárias.
[notícia atualizada às 14h23]