A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) entregou esta terça-feira ao primeiro-ministro uma carta a exigir a demissão do presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF), alegando uma "quebra irrecuperável de confiança" após declarações polémicas no parlamento.
"O que nós dizemos é que não há condições de trabalhar com o senhor engenheiro Tiago Oliveira, enquanto o mesmo não vier publicamente esclarecer tudo o que deve esclarecer", avançou o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António Nunes, em declarações aos jornalistas, depois de ser recebido pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro.
"Naturalmente que se ele não quer esclarecer, e está no seu direito, nós bombeiros estamos no direito de dizer que não queremos trabalhar com ele. E aquilo que nós dissemos desde o início é que não estão reunidas as condições necessárias e suficientes para continuarmos a trabalhar numa área tão importante que é a prevenção e o combate aos incêndios florestais", declarou António Nunes.
Se o presidente da AGIF "não tem condições" para continuar no cargo, após a onda de críticas após declarações no Parlamento, a consequência é que "ele tem de se ir embora", frisou o presidente da LBP.
A Liga insiste na necessidade de um pedido de desculpas público por parte de Tiago Oliveira, que "nunca manifestou grande apreço pela atividade dos bombeiros", e a quem acusa de fazer "declarações descontextualizadas atentatórias à dignidade, à honra e ao bom nome" dos bombeiros.
António Nunes frisou que são falsas as declarações de Tiago Oliveira de que os Bombeiros recebem em função da área ardida e pediu, reiteradamente, mais respeito e maior reconhecimento pelo trabalho que desempenham.
"Falta essa perceção de que os bombeiros são um setor essencial para a Proteção Civil, e não são da Proteção Civil", destacou o dirigente, pedindo um maior reconhecimento, quer público, quer político, do trabalho dos operacionais.
"Nós precisamos de sentir mais afeto no terreno, nós precisamos que no final de um grande incêndio haja uma palavra de agradecimento aos bombeiros. Precisamos que deixe de aparecer nas televisões e nos jornais que estão 800 ou mil operacionais no terreno, quando nós sabemos que estão lá mil bombeiros: mulheres e homens, a maior parte deles voluntários, que deixaram as suas famílias para dar vida por vida."
Criticando o silêncio do Governo sobre a polémica, que deixa os bombeiros "profundamente ofendidos e chocados", a LBP garantiu que "não vai esquecer o que se passou" e vai continuar a exigir ao primeiro-ministro e ao ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, que venham a público pronunciar-se "sobre o ocorrido e esclareçam os cidadãos da verdade sobre o financiamento e trabalho dos bombeiros no combate aos incêndios florestais".
Na carta ao primeiro-ministro, a LBP dá conta de ter suspendido a participação nas reuniões com a AGIF até haver um pedido de desculpas público do seu presidente ou a sua demissão, e de ponderar a apresentação de uma queixa-crime e de um pedido de indemnização por danos morais, no valor de mil euros por cada entidade detentora de corpos de bombeiros.
Para além do protesto em relação ao presidente da AGIF, a LBP remeteu também ao primeiro-ministro um apelo para rever aspetos como o financiamento dos corpos de bombeiros, proteção social, formação, entre outros, lamentando que as reuniões com o Ministério da Administração Interna no início do ano não tenham produzido resultados com "soluções claras para atenuar a vida difícil" dos bombeiros.
A entrega dos documentos foi feita na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, pelas 16h00 desta terça-feira, num "ato simbólico que envolve os órgãos sociais da LBP, os dirigentes das Federações de Bombeiros, com uma centena de dirigentes, comandos e bombeiros, através do qual se pretende demonstrar o desagrado e as consequências em torno das declarações insultuosas do presidente da AGIF para com os bombeiros e os municípios e o sentimento de abandono que os bombeiros estão votados".