Muitos portugueses perguntam-se como é que, em pleno século XXI, na era da tecnologia e da inteligência artificial, ainda seja necessário enfiar uma zaragatoa nariz adentro para saber se se está infetado com o novo coronavírus.
Olivier Bonamicci, jornalista francês em Portugal e colaborador da Renascença, queixou-se disso mesmo nesta sexta-feira, durante o programa Visto de Fora.
Porque é que o método usado continua a ser tão arcaico?
Segundo Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, vamos ter que esperar um pouco mais para existir um método menos incómodo. A ciência leva tempo e é preciso garantir que as novas tecnologias são fiáveis e seguras.
Para identificar a presença do SARS-COV-2 no organismo, é preciso fazer a recolha de material do vírus, onde ele estiver. E onde é que ele pode ser encontrado? Tanto pode ser na nasofaringe (bem lá atrás no nariz) ou na boca (na orofaringe...bem lá atrás na boca).
E a única forma de recolher esse material, por agora, é com a ajuda de uma zaragatoa – ou seja, um grande cotonete.
A ideia é recolher uma amostra que, depois de processada em laboratório, torna possível perceber se a pessoa está infetada.
Mas há outras tecnologias já em desenvolvimento. Por exemplo, com recurso à saliva. Mas essa técnica ainda está em fase de estudo.
Entre as pessoas que já fizeram o teste, há as que dizem que custa bastante e as que não custa nada. Como se pode reduzir o incómodo?
“Agradável nunca será", garante Ricardo Mexia. O grau de desconforto vai depender muito da ansiedade da pessoa e do operador.
O nosso nariz tem uma série de estruturas sensíveis que, quando o cotonete lhes toca, gera incómodo, explica o médico de saúde pública.
Se a pessoa estiver calma, é desconfortável mas não é doloroso; se a pessoa se mexer e se a zaragatoa tocar nesses pontos sensíveis de uma forma mais vigorosa pode causar um pouco de dor.
Aconselha-se que a pessoa esteja o mais tranquila possível e que não faça movimentos bruscos.
E os testes rápidos? Serão menos incómodos?
Não. Para a pessoa que é testada, será praticamente a mesma coisa. A diferença é que o objetivo dos testes antigénio (os chamados testes rápidos) é identificar uma proteína do vírus: o antigénio.
Mas, tal como nos outros, é preciso fazer a colheita com uma zaragatoa. A técnica de colheita é muito semelhante. Mas, depois, o processamento será muito mais rápido e até pode ser feito no local – ou seja, a pessoa ficara a saber o resultado muito mais rapidamente.
E os testes serológicos?
Estes, sim, são bem mais simples, porque são feitos com base numa colheita de sangue. Não há zaragatoas. A agulha é (ou poderá ser) o único incómodo.
Mas atenção: o teste serológico não permite saber se a pessoa está infetada – apenas permite perceber se já foram desenvolvidos anticorpos para o vírus.
A questão é que a produção de anticorpos não é imediata quando existe um contacto com o vírus. A probabilidade de existirem anticorpos numa fase inicial é muito baixa. Na prática, uma pessoa poderá estar infetada e dar resultado negativo num teste serológico.
Também é verdade que um dos marcadores analisados no teste serológico é o marcador de infeção ativa. Se esse indicador existir, significa que pode haver infeção. Isto não deve, contudo, servir de diagnóstico. Nesse caso, terá de ser feito o teste à Covid-19, com recurso à zaragatoa, para confirmar.