O Presidente russo, Vladimir Putin, reagiu este sábado às declarações recentes do líder do grupo Wagner, invocando uma "rebelião armada", após Yevgeny Prigozhin ter incentivado a uma revolta contra as altas chefias militares russas, tecendo críticas à invasão da Ucrânia.
Nas suas primeiras declarações públicas desde o apelo feito pelo líder do grupo de mercenários russos, sem nunca referir diretamente o Wagner, Putin disse que os russos "têm de unir forças" face ao que considera uma "traição", uma "facada nas costas" e uma "aventura criminosa".
"As ambições de alguns levaram a esta grande traição", adiantou o líder russo, apelando à população que foi "enganada" que una forças e deixe as diferenças de lado.
Para Putin, quem pegar em armas contra o Exército russo, como pediu Prigozhin, será considerado um traidor, num recado direto aos membros do grupo paramilitar que tem levado a cabo uma parte considerável das batalhas no território ucraniano desde que Moscovo decidiu invadir o país vizinho em fevereiro de 2022.
"Estamos a lutar pela vida e segurança dos nossos cidadãos", declarou o Presidente russo, prometendo "castigos iminentes" para os responsáveis pela "traição interna".
Na cidade de Rostov-on-Don, cidade tomada pelo grupo Wagner, Vladimir Putin assume que a situação é "complicada", mas diz que o Governo já está a encetar ações para estabilizar a situação.
Em Moscovo, as autoridades continuam sob alerta máximo face às ameaças, tendo declarado "regime antiterrorista". EUA e Ucrânia já disseram estar a acompanhar de perto os desenvolvimentos da situação na Rússia.
Num curto tweet publicado esta manhã, o Minitério da Defesa da Ucrânia disse apenas: "Estamos atentos."
Moscovo pede a mercenários que detenham Prigozhin
Antes do discurso de Putin em direto na televisão, o Serviço Federal de Segurança russo apelou aos combatentes do grupo Wagner para que detenham o líder da organização paramilitar, que se rebelou contra o comando russo, adiantou a agência de notícias oficial russa TASS.
A mesma agência indicou que o Comité Nacional Antiterrorista da Rússia instaurou um processo penal contra o Yevgeny Prigozhin, que arrisca 20 anos de prisão, acusado pelas autoridades russas de organizar um motim armado contra o comando militar.
A TASS adiantou que "o gabinete de imprensa do Serviço Federal de Segurança (FSB) afirmou que a ação penal foi iniciada devido à gravidade da situação e à ameaça de escalada na Rússia" e que apelou igualmente aos combatentes do grupo Wagner "para que não cumprissem as ordens de Prigozhin e o detivessem".
"O Ministério da Defesa desmentiu as alegações de ataques aéreos contra as unidades Wagner. O porta-voz do Kremlin declarou que o Presidente, Vladimir Putin, foi informado da situação relativa a [Yevgeny] Prigozhin, acrescentando que estão a ser tomadas todas as medidas necessárias", noticiou.
O chefe do grupo paramilitar Wagner anunciou que o seu exército privado cruzou a fronteira russa na região do Rostov, sul do país, e disse estar disposto a “ir até ao fim”, após apelar a uma rebelião contra o comando militar do país, que acusou de atacar os seus combatentes.
O líder do grupo paramilitar Wagner disse ter 25 mil soldados às suas ordens e prontos para morrer, instando os russos a juntarem-se a estes numa “marcha pela justiça”.
Prigozhin acusara antes o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia.
As acusações de Prigozhin expõem as profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
O líder do grupo Wagner já tinha afirmado que o Exército russo está a recuar em vários setores do sul e leste da Ucrânia, Kherson e Zaporijia, respetivamente, e em Bakhmut, contrariando as afirmações de Moscovo de que a contraofensiva de Kiev era um fracasso.
[atualizado às 8h42]