José Sócrates considera que o juiz de instrução criminal Ivo Rosa não o considerou corrupto.
Em entrevista à TVI, a primeira depois de conhecida a decisão instrutória da Operação Marquês, o antigo primeiro-ministro sublinhou que “o juiz não determina, não faz afirmações. Na fase de instrução não se declara isto ou aquilo, o que se faz é definir se há indícios para levar alguém a tribunal por um determinado crime”.
Sócrates insiste, mesmo, que a conclusão que resulta da decisão instrutória proferida por Ivo Rosa é de que, “ao longo dos seis anos de mandato, nunca houve nenhum ato concreto contrário aos deveres do cargo” de primeiro-ministro.
Nestas declarações Sócrates disse, também, que não nutre “nenhuma simpatia nem antipatia para com o juiz Ivo Rosa. As decisões que ele tomou não foram mais do que o dever dele. Ele não o fez porque gosta de mim” e acrescentou que Ivo Rosa "decidiu deitar aquilo tudo abaixo porque não tinha outra alternativa. Porque provámos que aquelas mentiras eram estapafúrdias".
O ex-político, que não poupou críticas à atual estrutura do PS, criticou porém Ivo Rosa por ter decidido que deve responder em tribunal por crimes de branqueamento, dizendo que foi acusado de um novo crime do qual não se pôde defender até agora. "Ele considerou que havia indícios para levar isto a tribunal, mas eu nunca pude apresentar provas contra esta acusação. Nunca ninguém me disse que Carlos Santos Silva me corrompeu", disse.
"É um crime novo. Nunca disseram ao Carlos Santos Silva
que era um corruptor ativo. Aos visados nunca foi dada hipótese de defesa.
Aquilo que há de mais diabólico na justiça: que é vou te levar a julgamento por
um crime que te escondi. Nem te poderás defender no futuro porque prescreveu.
Estão enganados, porque eu vou me defender disso."
Sócrates assegura que "não tinha uma vida de luxo" em Paris
Questionado sobre os montantes recebidos de Carlos Santos Silva, apontado como seu "testa de ferro", em 2013 e 2014, Sócrates reitera que as quantias foram recebidas “como empréstimo” e que não eram usadas para uma vida de luxo, mas, antes, como um investimento em educação, para que pudesse fazer o mestrado em Paris e proporcionar aos filhos a oportunidade de estudar numa escola no estrangeiro.
"Todos os dinheiros referem-se aos empréstimos que Santos Silva me fez. Desde o primeiro dia em que fui interrogado, eu e Santos Silva demos a mesma explicação: ele decidiu financiar-me e ajudar-me", disse.
Nesse ponto particular, Sócrates passou ao ataque ao juiz de instrução, sublinhando que Ivo Rosa "não tem o direito de me indiciar de crimes novos que não constam na acusação".
José Sócrates foi pressionado pelo entrevistador sobre a verosimilidade dos empréstimos alegadamente feitos por Carlos Santos Silva e negou que vários dos levantamentos feitos pelo seu amigo terem sido, de facto para ele. Quanto ao dinheiro que reconhece ter sido "emprestado", José Sócrates que os dois não tinham qualquer tipo de contabilidade organizada, tendo antes todos os valores assentes "num papel", que o antigo primeiro-ministro chegou a mostrar em tribunal, mas que não foi nunca anexado ao processo.
Quando questionado sobre aquilo que a acusação diz terem sido conversas em código para pedir dinheiro, José Sócrates rejeitou. "Se numa conversa eu digo 'traz-me lá aquela coisa de que gosto', porque é que se deve presumir que é dinheiro?", perguntou.
Sócrates acabou, contudo, por perder a paciência com estas perguntas dizendo que o dinheiro em causa não é dele, que a conta não era dele e que por isso se alguém tinha de prestar explicações seria Carlos Santos Silva. O amigo de José Sócrates tem recusado dar entrevistas desde que o processo começou.
[Notícia atualizada às 22h02]