Pedro Nuno Santos é o "mais fanático defensor" da geringonça, a "versão moderna do gonçalvismo", juntamente com a "Cinderela" Mortágua. Foi com estas palavras que o líder do PSD abriu os trabalhos do 41.º Congresso, a decorrer em Almada.
Foi ao candidato à sucessão de António Costa que Luís Montenegro apontou baterias, encostando Pedro Nuno Santos à ala esquerda do PS. "O país vai ter oportunidade de dizer não ao gonçalvismo", disse o líder do PSD aos congressistas que enchem o pavilhão dos desportos de Almada.
Optando por um discurso moderado e descolado de "radicalismos", Montenegro garante que "o PSD não é extremista, não é radical, mas interclassista", apelando ao voto útil e piscando o olho aos eleitores do PS que se mostram agora descontentes.
"Este PSD mais do que ser de esquerda ou de direita é das pessoas e para as pessoas", diz Montenegro, que garante que o partido "é uma casa segura para os não socialistas, mas é também uma casa segura" para os que votaram em António Costa e "que não acreditam neste novo gonçalvismo travestido de geringonça".
"Quero dizer aos portugueses que se indignam, que não se reveem num país gerido assim, que têm no PSD moderado aberto humilde e responsável o porto de abrigo, porto seguro do seu voto".
O líder do PSD parece dar como garantida a vitória de Pedro Nuno Santos à frente do PS, classificando-o como "o mais famoso adepto da Geringonça" que "aparece a falar de mansinho".
A meio do discurso, Montenegro desabafou mesmo: "Deus nos livre de ter um radical à frente do Governo, de ter a imaturidade à frente do Governo", referindo que nas eleições de março o país vai ter oportunidade de dizer 'não' ao Gonçalvismo".
Num Congresso a decorrer em pleno 25 de novembro, o presidente do PSD cola o líder da ala esquerda do PS "aos mesmos princípios" desse período após o 25 de abril: "Nacionalizações, ocupação da Administração do Estado, subsidiodependência, degradação institucional".
Deixando para o discurso de final de dia a apresentação das propostas do PSD para o país, Montenegro definiu o patamar ideológico em que o partido se encontra. "Dizem eles que sou eu que vou abrir a porta ao extremismo. Não, não sou eu que vou abrir essa porta. Foram eles que abriram essa porta nos últimos oito anos".
O líder social-democrata opta por um posicionamento moderado, ao centro, por oposição ao "radicalismo" de Pedro Nuno. Aos que colam o PSD ao Chega num eventual acordo pós eleitoral, Montenegro corta a eito. "Não vale a pena virem espantar o país com esse tipo de tiradas. No PSD estamos muito esclarecidos".
O líder social-democrata, tal como vem acontecendo, vira o fantasma ao contrário. "O romance entre o PS e o Chega segue aquela máxima de quanto mais se batem mais gostam um do outro", concluiu Montenegro.
A verdade é que se Montenegro concentrou as atenções em Pedro Nuno Santos, também José Luís Carneiro, outro candidato à liderança do PS, não ficou de fora do discurso do líder social-democrata. "Aconteça o que acontecer teremos um governante da velha Geringonça", se o PS vier a ganhar as eleições.
"Ambos", ou seja, Pedro Nuno e Carneiro, "fizeram parte do núcleo politico que trouxeram o caos à escola pública, ambos perfilharam a aliança com o Bloco de Esquerda, um partido que incita ativismos", despachou o líder do PSD.
E nem os comunistas se livraram de ser metidos no mesmo saco do "radicalismo", segundo Montenegro. Quer Pedro Nuno Santos, quer José Luís Carneiro "abraçaram o PCP, o PC mais reacionário da Europa Ocidental, o que lamentou mais a queda da URSS do que a guerra na Ucrânia" e "ambos são do mesmo PS que à maneira soviética aponta à propriedade privada".
Para o final, Montenegro deixou a referência ao modo como o Governo de António Costa "ruiu por dentro", evitando falar diretamente do caso judicial que envolve o primeiro-ministro.
"Tenho evitado contribuir para alimentar intrigas políticas, mas se alguém vê nisso algum receio ou inibição desengane-se, era o que faltava!", avisa o líder do PSD, que ao longo de 2023 viu elementos da sua direção parlamentar envolvidos no caso Vórtex. "Sempre fui um homem livre", concluiu.
"O Governo não caiu por causa de um parágrafo, nem por causa de um processo, caiu de podre por indecente e má figura na governação". Foi esta a única referência direta de Montenegro ao processo Influencer, que concluiu que "foram demasiadas mentiras, demasiados abusos de poder, demasiada falta de decência" do Governo do PS.
Ausente do discurso do líder social-democrata esteve a política de alianças para as legislativas de março. É a decisão que a direção nacional ainda não tomou, se faz entendimentos pré-eleitorais com a IL ou o CDS.
A única garantia que Montenegro deu a este Congresso é para o pós-eleições: "Só serei primeiro-ministro se vencer as eleições de março", posição que nem sequer é nova. O líder social-democrata promete que nem ele nem o partido "vão falhar, vão estar à altura" do momento.
[Notícia atualizada às 12h00 de 25 de novembro de 2023]