Vinte histórias de 20 migrantes a residir em Portugal podem ser conhecidas numa exposição desenvolvida em parceria entre a Rede Portuguesa Anti-Pobreza (EAPN) e a Project Opportunities que está aberta ao público na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa.
Além de contar estas 20 histótias, a iniciativa “20 caminhos na voz de migrantes” pretende promover uma troca de narrativas, no sentido de desafiar a narrativa vigente face à migração.
“Com base na experiência da metodologia Cross Talks (conversas cruzadas), apresenta um conjunto de histórias de migrantes que escolheram Portugal para viver e aqui constroem os seus percursos de inclusão. Aqui, os migrantes partilham as suas experiências, as suas aspirações e sonhos e o que esperam da sociedade que os acolhe.”, lê-se no comunicado divulgado pela EAPN.
Uma mesa-redonda promovida na inauguração, com a participação do Chefe de Missão da Organização Internacional da Migração Portugal (OIM), Vasco Malta, abordou os principais problemas sentidos pelos migrantes em Portugal. Paula Cruz, do departamento de Investigação e Projetos da EAPN Portugal, disse que “o trabalho foi assente numa metodologia chamada conversas cruzadas, uma metodologia participativa, e, portanto, eles também já tiveram oportunidade de partilhar as suas histórias com outros atores, que leram as histórias deles.”
De acordo com a responsável, “uma das coisas que eles [os participantes migrantes] destacaram foi a importância da educação, da educação desde cedo nas escolas, educação intercultural, para combater os estereótipos que existem relativamente aos migrantes”.
Outro tema discutido foi a importância de desburocratizar os processos. “Existe muita burocracia relativamente à regularização dos migrantes em Portugal, e, portanto, é preciso também trabalhar nessa dimensão."
A exposição consiste na mostra de uma série de histórias e narrativas, que provieram de um processo longo de entrevistas, e que expõe algumas das dificuldades sentidas pelos migrantes em Portugal, bem como expectativas e aspirações que trouxeram para cá.
O objetivo principal do projeto passa por fazer uma distinção entre as diferentes narrativas sobre a migração, procurando fugir das narrativas jurídicas e económicas. “Essas narrativas muitas vezes retratam a migração de maneira abstrata, negligenciando a individualização dos migrantes. Portanto, acreditamos que dar voz aos próprios migrantes é fundamental, bem como encorajar a sua autorrepresentação através da partilha de histórias e experiência de migração”, refere o Projeto Opportunities.
“Inicialmente, este movimento migratório que suscitou uma narrativa de integração dos migrantes na política europeia conjunta, rapidamente se transformou numa narrativa de crise e desintegração. Os debates sobre migração tornaram-se cada vez mais negativos, frequentemente explorados por populistas de direita com narrativas de ódio e de medo prevalecendo sobre narrativas de integração”, lê-se no comunicado.