Seminários têm de saber ler os “sinais dos tempos”
13-11-2017 - 19:46

Dois padres conversam sobre os desafios, problemas e esperanças na Semana dos Seminários.

Quem chega aos seminários vem marcado pelos sinais deste tempo e, por isso, é preciso que a formação e o acompanhamento vá dando resposta aos problemas e desafios de cada tempo. Ou seja, os seminários têm de saber ler “os sinais dos tempos” e adaptar a formação. É o que pensam o padre Rui de Jesus, director do seminário de São José de Caparide, da Diocese de Lisboa, e o padre Tony Neves, superior dos Missionários Espiritanos que esta segunda-feira estiveram à conversa na Renascença a propósito da Semana dos Seminários que a Igreja assinala até domingo.

Uma das formas de dar resposta a esses sinais dos tempos foram as alterações nas regras para a formação dos seminaristas publicadas pelo Vaticano no ano passado. Implicam, por exemplo, que o chamado ano propedêutico (um ano de passagem entre o seminário menor e o seminário maior e, portanto, antes da entrada em Teologia) seja feito num sitio diferente. Por isso, o Seminário de Caparide, que antes também tinha alunos do primeiro e segundo anos de Teologia, agora só tem o ano propedêutico, mas com jovens vindos de várias dioceses e até do estrangeiro, nomeadamente de São Tomé e Príncipe, como assinala o padre Rui de Jesus.

Este ano “é muito importante porque permite fundamentar o essencial da formação cristã, é como que uma iniciação cristã reforçada”, explica o director do Seminário de Caparide, que diz que não é só por causa de escândalos, como os casos de pedofilia, que a Igreja deve insistir no ano propedêutico.

Também o padre Tony Neves considera que a directiva do Vaticano “faz todo o sentido e aponta caminhos de futuro”.

“A Igreja ao longo dos tempos sempre teve capacidade de ler os sinais que Deus vai indicando através dos acontecimentos”, continua o provincial dos Espiritanos, que alerta para a necessidade de trabalhar as várias maturidades de cada pessoa, que não apenas a afectiva. “Se não trabalharmos as maturidades como um todo corremos o risco de abrir brechas na muralha”, avisa o padre Tony Neves.

“As mediatizações do que acontece apontam sempre para aspectos negativos, que são graves e não podemos passar ao lado”, reconhece o missionário, para quem é necessária e urgente “uma formação integral constante”, pois “um padre tem de ser um pastor, um líder de comunidade, um homem aberto, culto, feliz e todas essas dimensões têm de ser cultivadas”.

Os padres, continua, têm de ser “homens íntegros, homens integralmente dedicados à Igreja e isso obriga a uma formação muito séria”.

Regressado há dias da América Latina, o padre Tony Neves encontrou por lá, como na visita que fez no ano passado a Moçambique e a Angola, seminários cheios e até necessidade de construir mais. Uma realidade bem diferente do que se passa na Europa, onde muitas casas estão vazias e foram reconvertidas em centros de espiritualidade e de acolhimento.

“Isto é tudo um bocadinho cíclico. A presença da Igreja nas sociedades tem sempre altos e baixos”, desdramatiza o padre Tony Neves.

Essa realidade em África faz, por outro lado, com que venham seminaristas de São Tomé para Lisboa ou Santarém que costumavam ir para Luanda, mas onde agora não há lugar.

Por cá, o padre Rui de Jesus explica a falta de vocações, precisamente, com os sinais dos tempos. “Estamos a viver como se não houvesse Céu”, afirma este responsável pela formação, explicando que, por exemplo, uma das tendências que é preciso contrariar é o gosto pelo efémero. “Hoje chegam-nos muitos jovens fazem voluntariado e estão aplicados nisso, mas depois [no que diz respeito á vocação sacerdotal] exige-se que esse voluntariado seja definitivo”, explica o padre, defendendo que é preciso mostrar que “é possível viver um amor infinito”, seja no matrimónio seja no sacerdócio.