As questões do acesso aos sacramentos por parte das pessoas em uniões irregulares e a melhor forma de acolher os homossexuais continuam a marcar os trabalhos do sínodo sobre a família e esta terça-feira a variedade de opiniões existentes entre os presentes ficou muito clara na pessoa dos três convidados para a conferência de imprensa diária, cada um com uma opinião diferente.
Em primeiro lugar falou o abade beneditino Jeremias Schröder, afirmando que na sua Alemanha natal a opinião pública favorece uma maior abertura.
“Eu sou da Alemanha e parece-me, por exemplo, que a questão dos divorciados que casaram de novo, ou divorciados que vivem uma união estável com filhos, está fortemente presente entre os católicos alemães. Não é uma preocupação, como o é noutros lados, por isso, penso que se poderia encarar, para este caso, uma pastoral regional”, afirmou, defendendo que em vez de se procurar uma solução uniforme para toda a Igreja, cada conferência episcopal seja livre de procurar o rumo que melhor serve a sua realidade.
“Também me parece que a compreensão da homossexualidade e a aceitação social da homossexualidade, culturalmente, também é muito diversificada. Por isso, obviamente, também me parece que nesta questão as conferências episcopais deviam ser autorizadas a formular respostas pastorais em sintonia com o que pode ser anunciado e vivido em determinado contexto”, reafirmou.
Opinião diametralmente oposta foi manifestada, logo de seguida, por Thérese Nyirabukeye, uma consagrada do Ruanda que trabalha para a Federação Africana de Acção Familiar e é especialista em métodos naturais de planeamento familiar, que manifestou o medo de uma fragmentação da Igreja.
“Espero que os aspectos doutrinais sejam bem conservados e que a aplicação pastoral de um ou outro caso seja sempre feita com referência a uma doutrina e a critérios doutrinais que podem orientar uma opção. Porque também há o risco de se fazer o que se quiser com a Igreja e, assim, se criar um fenómeno de seitas no seio da Igreja Católica. Os padres sinodais devem examinar e ter tempo para estudar bem as consequências e as implicações concretas, relativamente à estrutura e à própria natureza da Igreja”, afirmou.
Por fim, com uma opinião de meio-termo, a canadiana Moira McQueen, especialista em Teologia Moral, disse existirem vantagens e desvantagens em ambas as abordagens.
“Há, de facto, um movimento favorável a que algumas questões serem melhor, ou mais facilmente, resolvidas a nível local ou regional. Posso ver nisso algumas vantagens, mas, ao mesmo tempo, ainda nada disto aconteceu ou foi votado. E francamente, apesar de eu ver vantagens, também vejo desvantagens e penso que a Igreja, com a sua sabedoria, terá naturalmente de considerar os dois lados.”
Um novo “Vatileaks”?
A questão da carta endereçada ao Papa, assinada por 13 cardeais que se mostraram preocupados com o rumo e o modo de funcionamento do sínodo, voltou a ser notícia esta terça-feira.
Na segunda-feira, o cardeal Pell, primeiro signatário da carta, tinha confirmado a sua existência mas disse que a versão que chegou à imprensa contém incorrecções tanto no texto como na lista de signatários.
O director da Sala de Imprensa da Santa Sé afirmou, na abertura da conferência de imprensa, que este assunto nunca devia ter vindo a público. “O cardeal Pell declarou que foi entregue uma carta reservada ao Papa e devia permanecer reservada. E que aquilo que publicaram não corresponde ao texto nem aos signatários que assinaram a carta ao Papa. Por isso, quem – passados tantos dias – deu este texto e esta lista de nomes para publicação, cumpriu um acto de distúrbio, alheio à vontade dos signatários. É preciso, pois, não se deixar condicionar.”
“Que possa haver observações sobre a nova metodologia do Sínodo, não surpreende. Mas, uma vez estabelecida, todos se empenham a realizá-la da melhor maneira. O clima geral da Assembleia é, sem dúvida, positivo”, concluiu o padre Federico Lombardi.
Também o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Müller, criticou em entrevista à imprensa italiana esta terça-feira a divulgação da carta, afirmando que esta pode ser comparada a um novo “vatileaks” e dizendo que quem divulgou a carta apenas pode ter intenção de criar discórdia e um clima de suspeição entre os colaboradores do Papa Francisco.