A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) não esconde a satisfação pela decisão do Supremo Tribunal do Paquistão, de anular a sentença de Asia Bibi, condenada à morte em 2009 por ter bebido água do mesmo copo de uma colega muçulmana – uma ofensa grave ao Islão e o profeta Maomé, ao abrigo da lei da blasfémia.
“Era uma decisão que esperávamos há muito, por isso estamos eufóricos, estamos mesmo muito contentes”, admite à Renascença Felix Lungu, responsável da Fundação AIS em Portugal.
“Asia Bibi ainda não foi libertada, mas já sabemos qual é a decisão do juiz e é uma grande notícia”, conclui.
Mas Felix Lungu deixa um alerta: a decisão do Tribunal pode não pôr um ponto final no caso. Ao longo dos anos, lembra, pelo menos dois altos responsáveis do país foram assassinados por defenderem Asia Bibi, pelo que não há dúvidas de que vêm aí dias difíceis, sobretudo para os cristãos.
“Muito provavelmente, esta decisão do tribunal vai-se virar contra a pequena comunidade cristã. Não sabemos em que condições vive a família de Asia Bibi ou a família do advogado que a ajudou ou o próprio juiz que tomou esta decisão, mas sabemos que correm perigo de vida e que num futuro próximo a vida, sobretudo para a comunidade cristã minoritária no Paquistão, vai ser muito difícil”, avisa.
Felix Lungu diz que os protestos já começaram em várias cidades paquistanesas. “Em Lahore e noutras cidades como Islamabad, estão já a bloquear ruas, a queimar pneus, e a exigir que seja refeita justiça. Pedem que Asia Bibi seja enforcada, para dar o exemplo. Ou seja, nos próximos tempos vamos continuar infelizmente a ouvir notícias tristes do Paquistão”, afirma.
A AIS, que ao longo dos anos não deixou cair este caso no esquecimento, com várias campanhas de oração, mas também de angariação de fundos para apoiar a defesa de Asia Bibi, promete agora continuar alerta.
“Vamos continuar este caminho de luta pelos direitos humanos, pela justiça e pela dignidade da pessoa humana, esteja onde estiver”, assegura Felix Lungu.
Família de Asia Bibi anseia por reencontro
A notícia da absolvição de Asia Bibi foi recebida com grande satisfação pela família. “Estou desejosa de abraçar a minha mãe”, disse a filha Eisham Ashiq, de 18 anos, à Fundação AIS, minutos depois da decisão do Supremo Tribunal ter sido divulgada. Tanto ela, como o seu pai dizem que este foi “o momento mais maravilhoso" das suas vidas.
“Estamos muito agradecidos a Deus por ter escutado as nossas preces e as de tantas pessoas que ansiaram pela sua libertação durante todos estes anos de sofrimento e angústia”, afirmaram.
A decisão do tribunal foi igualmente aplaudida pelo responsável pela Comissão Nacional Justiça e Paz do Paquistão, que apoia pessoas acusadas de blasfémia com a ajuda de organizações como a AIS. “Estou satisfeito que finalmente se tenha feito justiça”, afirmou o padre Emmanuel Yousaf, que pediu a Deus que “abençoe e proteja Asia e a sua família”, face aos protestos de grupos extremistas.