O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, não quer aumento de salários. Porquê?
Por causa da inflação. Mário Centeno considera que a inflação não se combate com o aumento dos salários, defendendo que, com uma abordagem desse género, todos iremos perder a médio prazo.
Perder com o aumento de salários?
O governador do Banco de Portugal diz que a subida generalizada dos salários só alimenta o aumento de preços, e porquê? Porque se tivermos dinheiro suficiente para continuar a consumir os preços não vão descer. Com menos dinheiro, haverá um corte no consumo, o que pode obrigar a uma redução de preços. É essa a expectativa.
Mas a verdade é que os funcionários públicos foram aumentados este ano. Foi uma estratégia errada?
Não porque, apesar do aumento salarial, os funcionários público também perderam rendimento. Como é que se explica: o aumento foi de 0,9%, mas a inflação foi muito superior, a rondar os 9%. Ou seja, esse aumento é anulado pela inflação porque os preços subiram muito mais do que o rendimento disponível. Na prática, houve um corte.
Então o que devem fazer as autoridades se, de acordo com Mário Centeno, não convém aumentar salários?
O governador do Banco de Portugal fala em mitigar os efeitos da inflação. Quer isto dizer que a estratégia a seguir, de acordo com o Banco de Portugal, é o que tem sido feito pelo Banco Central Europeu: aumentar as taxas de juro, que é outra estratégia para travar o consumo. Outra forma é tentar apoiar aqueles que mais sofrem com a alta de preços, e que são os mais desfavorecidos, com medidas de apoio social.
E o aumento das taxas de juro está a travar a inflação?
Eventualmente não ao ritmo esperado. É certo que a inflação tem baixado, mas não rapidamente como o desejável. Razão pela qual é provável que o BCE decida no futuro uma nova subida das taxas de juro, embora não tão elevada, uma vez que há sinais de instabilidade nos bancos. Recordo o que já aqui explicámos: se os juros aumentarem de forma significativa muitos clientes podem ficar sem capacidade de pagar os empréstimos, o que pode levar a um quadro de falta de liquidez na banca. Isso seria problemático.
E não haverá outra forma para combater a inflação?
Voltando a Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal também disse que é altura de travar lucros ou de não pensar em lucros. Estará a falar de fixar preços? É um tema polémico, porque muitos economistas dizem que isso é prejudicial para a a economia.