O presidente da ZERO, Francisco Ferreira, acredita que "não é tão fácil" para Portugal atingir a meta de redução do consumo de eletricidade em 10%, proposta esta quarta-feira pela Comissão Europeia.
Bruxelas anunciou esta quarta-feira uma série de medidas para mitigar a crise energética, entre as quais a redução geral do consumo de eletricidade dos Estados-membros em 10%, até março de 2023.
A medida foi apresentada, em conferência de imprensa, pelo vice-presidente da Comissão Europeia. Frans Timmermans não só fala de uma diminuição do consumo geral da eletricidade, como a redução temporária e obrigatória de, "pelo menos, 5% durante as horas de pico".
Em reação, ouvido pela Renascença, Francisco Ferreira realça que a meta "é muito ambiciosa" e para países como Portugal, "em que o consumo doméstico per capita é dos mais reduzidos" é muito difícil.
O professor da área do ambiente na Universidade Nova de Lisboa considera que as pessoas vão fazer algum esforço de contenção, até por causa do aumento de custos devido à inflação", mas explica que isso pode não ser suficiente.
"A margem de manobra é muito curta. A iluminação representa menos de 2% do nosso consumo. Tem peso, mas não tem por aí além. Os equipamentos elétricos são outra componente em que as pessoas podem fazer um esforço, mas não há muito a fazer", refere.
O presidente da associação ambiental aponta uma meta de 5% como algo mais viável para o contexto português, referindo que poderão ter de ser outros países, com maior consumo energético, a ter de reduzir mais o seu consumo, em compensação.
E indica que uma resposta mais eficaz só podia ser feita no longo prazo, com medidas estruturais, até porque a proposta da Comissão Europeia vem "em contraciclo".
"Nós temos vindo, sucessivamente, a aumentar o consumo de eletricidade, em Portugal", realça.
Recordando que cerca de 20% dos portugueses vivem em pobreza energética e acreditanto que o inverno será "um fator decisivo", Francisco Ferreira acredita que é difícil chegar a um objetivo tão alto, "quando nós temos aqui um conjunto de necessidades mínimas que nem essas em muitos casos conseguimos garantir".
E no que toca as empresas, o especialista afirma que poderão ter uma maior capacidade para tomar medidas de eficiência energética, contudo lembra que já houve muitas a falir, precisamente devido ao aumento considerável do custo da energia.
"As empresas conseguiriam uma redução substancial, mas não de um momento para o outro. Tiveram de fazer investimentos e programá-los, para conseguirem compaginar uma redução tão significativa", aponta.