A Igreja Ortodoxa da Sérvia elegeu na quinta-feira o seu novo patriarca, depois de o anterior, Ireneu, ter morrido de Covid-19 no dia 20 de novembro de 2020.
O novo patriarca chama-se Porfírio (Porfirij, em sérvio) e tem 58 anos. Nos últimos anos foi responsável pelos fiéis da Igreja Ortodoxa da Sérvia do norte da Croácia e de toda a Eslovénia, tendo nessa capacidade cultivado boas relações com a Igreja Católica, sobretudo na Croácia, onde estava baseado.
O processo de eleição do Patriarca envolve a votação por parte dos membros do Santo Sínodo de três candidatos. O único requisito é que sejam bispos com pelo menos cinco anos de experiência. Os três nomes finais são colocados em envelopes, no interior de uma Bíblia, e retirados à sorte.
Porfírio era de longe o mais novo dos três candidatos finais e torna-se assim o 46.º Patriarca da Igreja Ortodoxa da Sérvia. Esta Igreja faz parte da mesma comunhão de Igrejas Ortodoxas que inclui a Rússia, a Grécia e a maioria dos países do leste da Europa.
A igreja desempenha um papel muito importante na sociedade sérvia, do Montenegro e da diáspora sérvia que tem uma importância grande nos países vizinhos. Dada a história de conflito na região, o fator religioso mistura-se frequentemente com o nacionalismo, levando a que a relação tensa entre sérvios e croatas, sobretudo, se reflita nas relações inter-religiosas.
Nesse sentido, a eleição de Porfírio pode ser uma boa notícia para as relações ecuménicas uma vez que durante o seu ministério em Zagreb o agora Patriarca estabeleceu boas relações com a hierarquia católica e era mesmo professor convidado em instituições de ensino católicas.
Porfírio é ainda um homem próximo do mundo da cultura. Quando foi responsável pelo mosteiro de Kovij, nos anos 90, vários jovens entraram para a vida consagrada sobre a sua influência e o mosteiro tornou-se um centro espiritual para pessoas do mundo das artes e da música. Desde então, o seu ministério tem incluído um trabalho próximo com toxicodependentes, tendo fundado um projeto chamado “Terra dos Vivos”, composto por vários campos onde se trata a toxicodependência e outras doenças aditivas.
O novo patriarca da Sérvia torna-se ainda o mais novo dos nove patriarcas da comunhão Ortodoxa Oriental.
Kosovo "a Jerusalém da Sérvia"
Porfírio foi investido oficialmente esta sexta-feira e não deixou de se referir a uma outra questão complexa para a geopolítica da região.
O patriarca reafirmou que o Kosovo, com maioria de população albanesa muçulmana e que declarou a independência unilateral em fevereiro de 2008, é a "Jerusalém espiritual da Sérvia".
No decurso da sua investidura solene na Catedral de Santo Sava, em Belgrado, o novo líder religioso afirmou que a ex-província do sul da Sérvia "é o cordão umbilical" que vincula à "linhagem espiritual e histórica" e com "a essência da identidade".
O Kosovo, onde a balança demográfica passou a pender para os albaneses locais há cerca de um século, é ainda encarado pelos sérvios como a origem da sua nação e da sua religião, e nesse território ainda permanecem numerosos mosteiros e igrejas sérvias medievais de importante valor cultural e histórico.
Segundo a tradição, o novo patriarca e que ocupava as funções de metropolita de Zabreg e Ljubljana, também terá de ser investido no antigo patriarcado de Pec, no Kosovo, uma cerimónia que deverá decorrer nas próximas semanas.
O líder da hierarquia religiosa ortodoxa da Sérvia declarou que não se irá envolver em questões políticas ou partidárias e afirmou que a tarefa da Igreja consiste em "edificar a paz e a confiança" para todos os povos e religiões.
A sua eleição surge num momento em que a Sérvia e o Kosovo estão sob pressão do Presidente dos EUA, Joe Biden, e da União Europeia, para o reinício do diálogo sobre a normalização das suas relações, 13 anos após a autoproclamação da independência e que Belgrado não reconhece.
Na perspetiva do analista Drasko Djenovic, citado pela agência noticiosa AFP, o novo patriarca pode mostrar-se menos intransigente face aos seus antecessores, apesar de a Igreja não prescindir de recordar que o Kosovo constituiu o berço da ortodoxia sérvia.
"As suas posições sobre o Kosovo poderão ser mais moderadas que as do seu antecessor, um motivo pela qual Vucic desejava a sua eleição", indicou.
"Os bispos mais velhos personificam as posições duras sobre o Kosovo (...) mas a situação é diferente entre os jovens bispos, que vivem no século XXI", acrescentou.
A Igreja Ortodoxa da Sérvia, uma das mais influentes instituições do país a opor-se à independência da antiga província sérvia, também rejeitou vigorosamente a ideia que foi evocada por Aleksandar Vucic, de proceder a uma troca de territórios com o Kosovo como solução para o conflito.
[Notícia atualizada às 17h54 com as declarações sobre o Kosovo]