O preço dos medicamentos genéricos não está a subir com o aumento da inflação. Aliás em alguns casos, segundo a indústria farmacêutica, até está a descer. Mas o que aparentemente seria uma boa notícia para os consumidores, pode revelar-se exatamente o contrário.
O aumento dos custos de produção sem o respetivo ajuste de preços, pode levar a roturas de stocks, segundo a Medicines for Europe, associação que junta os produtores de genéricos europeus.
“Ao aumentar os custos de produção, o nosso preço mantém-se igual ou diminui e, portanto, isto cria uma pressão muito grande nestes medicamentos. Significa que eles deixam de ser economicamente viáveis, porque as empresas acabam por perder dinheiro e leva a que alguns desses medicamentos sejam retirados do mercado, existindo um impacto para o utente que não tem acesso a estes medicamentos, porque deixaram de estar presentes no mercado”, afirma à Renascença Vítor Mendonça, membro da direção da Medicines for Europe.
Um em cada dois medicamentos vendidos em Portugal é genérico.
Mendonça garante que existe um grande impacto da inflação no mercado dos genéricos. O preço é regulado pelo Infarmed e, por isso, não sobe. Neste mercado altamente concorrencial, em que a “guerra de preços” faz parte do negócio, o que acontece é que, em muitos casos, o preço está a descer.
“E isto é um problema, porque as empresas que operam neste mercado, veem os seus custos a subir dramaticamente todos os dias”, lamenta o membro da associação de produtores europeus de medicamentos genéricos.
Em maio, a inflação na Europa foi de 8,1%, e a indústria de medicamentos vê os custos subirem nos transportes, energia, por exemplo.
Vítor Mendonça detalha esta subida de preços. Nas matérias-primas afiança que as empresas pagam três vezes mais, e na energia o aumento foi de 230%.
Aumentar o preço a par com a inflação
Para resolver esta situação, a indústria europeia de medicamentos genéricos está em conversações com os diversos governos.
Em Portugal, há reuniões a decorrer com o Infarmed. A solução, segundo Vítor Mendonça, pode ser a que já foi aplicada noutros países, como a Alemanha.
“Passa por que haja um ajustamento do nível de preços à inflação, e isso permitia de alguma forma fazer refletir este aumento dos custos de produção, e manter estes medicamentos viáveis e disponíveis para os pacientes”, sublinha.
Enquanto isso não acontece, já há empresas a retirarem medicamentos do mercado. No total, no ano passado desapareceram 13 genéricos das farmácias portuguesas.
“Já levou, por exemplo, a que em 2021 houvesse ruturas de alguns medicamentos o que tenderá a agravar-se este ano e enquanto persistir esta situação de inflação muito elevada. Por exemplo, na Bélgica, um em cada cinco medicamentos genéricos que estavam disponíveis no mercado desapareceram no último ano”, enfatiza.
Em relação ao mercado de medicamentos de marca, Vítor Mendonça diz que o problema também se sente. Os preços são igualmente tabelados, mas há uma diferença.
“Quando olhamos para o preço médio dos medicamentos de marca, este é de cerca de 17,6 euros, segundo os dados do Infarmed. Já o dos genéricos é de 7,4 euros. Isto quer dizer que quando se tem de absorver um aumento de custos, é mais fácil fazê-lo com um preço médio de 17,6 euros”, indica.
Segundo Vítor Mendonça, quando entra no mercado o genérico vale 50% do preço do medicamento de marca. O preço vai baixando à medida que mais empresas entram no mercado.
“Este ano a poupança com os medicamentos genéricos já foi de 220 milhões euros tanto para o Estado como para como para as famílias”, remata.