Dezenas de pessoas avaliaram hoje a sua saúde num hospital de campanha montado pelo Sindicato dos Enfermeiros na baixa de Lisboa, que pretendeu alertar a população para a importância dos enfermeiros e do Serviço Nacional de Saúde.
Montado no cruzamento da Rua Augusta com a Rua da Vitória, o hospital de campanha gerava a curiosidade de quem passava e foram muitos os que aproveitaram para medir a tensão arterial, a glicémia, pesar-se e ouvir os conselhos dos enfermeiros para terem hábitos saudáveis, proteger o corpo e a mente.
Carlos Vieira, 73 anos, foi um dos que decidiu parar para fazer um rastreio à sua saúde. "Tensão maravilhosa", disse-lhe a enfermeira, que de seguida lhe deu "uma picadinha" no dedo mindinho para ver como estava a diabetes.
No final, depois de se pesar, Carlos Vieira disse à Lusa que estava tudo dentro dos valores normais: "Em abril fiz 73 anos e estou um jovem, estou impecável".
"Eu cuido da minha saúde. Não é o médico que vem ter comigo, sou eu que vou ter com ele", disse, saudando a iniciativa dos enfermeiros.
Também Mário Carvalho, na casa dos 70 anos, realçou esta iniciativa, considerando que devia repetir-se "mais vezes", e afirmou que só participou por serem os enfermeiros a realizá-la.
"O nosso sistema de saúde não funciona, é completamente inadmissível uma pessoa estar doente e ter de estar dois anos à espera de ter uma consulta. Estou aqui por serem os enfermeiros senão, não estava", criticou Mário Carvalho.
José Lopes Mendes, 69 anos, também enalteceu esta ação devido à dificuldade em ser atendido no centro de saúde, onde os profissionais estão mais dedicados à covid-19.
"Acho uma boa ideia porque agora para ir aos centros de saúde é um problema", comentou o utente, que ficou satisfeito com os resultados positivos do rastreio.
Elizabete Lamy, uma de 20 enfermeiros que estavam a fazer os rastreios, manifestou-se surpreendida com a adesão da população.
"É a primeira vez que participo numa campanha e a adesão tem sido muito boa, falta até mais colegas para realmente atender toda a população que a nós acorre de uma forma espontânea", salientou a enfermeira.
Segundo Elizabete Lamy, foram observadas algumas pessoas que, apesar de fazer terapêutica para a tensão arterial, continuam com a tensão alta.
"Estas pessoas necessitam de algum apoio da nossa parte para poderem tomar decisões relativamente ao seu regime terapêutico medicamentoso, mas também em relação à alimentação, exercício físico, adaptado à sua situação, e o sono", adiantou.
Presente na iniciativa, Isabel Barbosa, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), disse ser "muito gratificante" sentir "o carinho da população" quando montam uma iniciativa deste género.
"Agradecemos o apoio da população, agora só falta a parte do Governo. Deem-no condições de trabalho", defendeu Isabel Barbosa, afirmando que esta iniciativa visa promover o contacto com os utentes e promover hábitos de vida saudável.
"Para que isto aconteça no Serviço Nacional de Saúde é preciso contratar enfermeiros com vínculo efetivo em número suficiente, que é isso que tem faltado", disse, salientando que os enfermeiros estão "completamente exaustos".
As suas reivindicações são a "justa contagem de pontos para efeitos de progressão a todos os enfermeiros", a harmonização de direitos entre enfermeiros com vínculos contratuais diferentes, medidas de compensação do risco e penosidade da profissão, através da aposentação mais cedo.
"O Governo reconhece o esforço e dedicação dos enfermeiros, mas continua sem resolver problemas que se têm vindo a agravar. Sentimo-nos injustiçados e exaustos", refere o SEP num folheto que estava a distribuir à população, junto com outro com recomendações como "tire tempo para si", "mantenha-se em contacto com a família e amigos" e "realize atividades que lhe deem prazer".
"A saúde é muito mais do que a covid-19 e é para isso que estamos a chamar a atenção", disse Isabel Barbosa, sublinhando que esta ação acaba por ser "um apelo aos utentes" para, através deles, chamar a atenção do Governo, pois "não chegam as palmas, não chegam as palavras", os enfermeiros querem "condições dignas de trabalho".
"Se não cuidarem de nós, também não podemos cuidar da população", rematou.
Para Vítor Gaiteiro, 89 anos, o alerta dos enfermeiros "é importante", defendendo que "o setor da saúde precisa do apoio de todos os portugueses, mas apoio sincero".
Quanto aos resultados do rastreio, Vítor Gaiteiro disse que os valores são "absolutamente normais", mas salientou que tem cuidado com a sua saúde: "Conheço e sinto o meu corpo".