Dois cirurgiões do Hospital de Faro foram suspensos provisoriamente por seis meses, avançou o jornal Expresso e confirmou o bastonário da Ordem dos Médicos à RTP3. Os médicos são suspeitos de má prática clínica.
"O conselho disciplinar da região Sul da Ordem dos Médicos publicou hoje um edital da suspensão preventiva de dois médicos - o Dr. Pedro Henriques e o Dr. Martins dos Santos - por um período de seis meses, referente ao processo que teve contornos públicos dos casos do serviço de cirurgia do Hospital de Faro", disse o bastonário Carlos Cortes.
O bastonário elogia o "trabalho rigoroso desenvolvido pelo conselho disciplinar da região Sul e, sobretudo, tendo em conta os indícios de alguma gravidade dos casos que foram enviados à Ordem dos Médicos, houve um aspeto de celeridade e que levou a esta suspensão preventiva, por motivos de segurança dos doentes e para permitir que ao conselho disciplinar continue o seu trabalho rigoroso de análise desses produtos".
Carlos Cortes explica que, em simultâneo, decorre uma investigação da comissão técnica criada pela Ordem dos Médicos para este caso do Hospital de Faro. As conclusões serão enviadas ao conselho disciplinar, o "tribunal" da Ordem dos Médicos, "que é quem tem autoridade para depois se for o caso tomar as devidas decisões sobre estes ou outros médicos".
Cirurgiões vão avançar com providência cautelar
Ao que a Renascença apurou, os cirurgiões suspensos preventivamente pelo conselho de disciplina da Ordem dos Médicos tencionam apresentar uma providência cautelar para anular os efeitos da decisão, que consideram desprovida de sentido e sem fundamentação.
Fonte hospitalar adianta que os médicos visados não foram ouvidos pelo Conselho de Disciplina da Ordem e que o edital hoje publicado não confirma as denúncias feitas.
A mesma fonte estranha que os dois cirurgiões tenham sido suspensos antes de serem conhecidas as conclusões da Comissão independente que está a avaliar as denúncias.
O diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), Horácio Guerreiro, diz, à Renascença, que a unidade não foi notificada da decisão e que ainda desconhece os motivos que levaram à suspensão dos dois médicos.
Horácio Guerreiro insiste que o hospital quer que a verdade seja apurada, para que os utentes continuem a ter confiança nos serviços.
Já o presidente do Colégio de Cirurgia, que integra a Comissão de Peritos nomeada pela Ordem dos Médicos, diz à Renascença que a investigação ainda decorre e é demorada, porque estão em causa casos complicados. António Menezes da Silva não se compromete, por isso, com prazos.
A decisão do colégio disciplinar da Ordem dos Médicos acontece na sequência de uma denúncia avançada por uma jovem médica que estava no início da especialidade.
No passado mês de abril, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, anunciou a criação de uma comissão técnica para investigar as denúncias de alegados erros médicos no Hospital de Faro.
Esta comissão surgiu na sequência da queixa efetuada pela médica interna Diana de Carvalho Pereira, relatada na sua conta na rede social Twitter, na Polícia Judiciária sobre "11 casos ocorridos entre janeiro e março" no hospital de Faro de "erro/negligência" no serviço de cirurgia.
Segundo a médica, dos casos relatados de 11 doentes, "três morreram, dois estão internados nos cuidados intermédios, os restantes tiveram lesão corporal associada a erro médico, que variam desde a castração acidental, perda de rins ou necessidade de colostomia para o resto da vida".
O Ministério Público também instaurou um inquérito sobre alegados erros e casos de negligência no serviço de cirurgia do Hospital de Faro.
[notícia atualizada às 21h46]