Pousou com sucesso e já enviou as primeiras fotografias da superfície marciana. O robot “Perseverance”, da NASA, viajou durante sete meses de viagem e fez mais de 400 milhões de quilómetros.
“É uma missão que vai ultrapassar muitas fronteiras”, afirma Joana Neto Lima, astrobióloga envolvida nesta missão da Administração Nacional Espacial e de Aeronáutica (National Aeronautics and Space Administration – NASA).
A cientista portuguesa esteve no centro de astrobiologia em Madrid, responsável pela estação meteorológica que seguiu a bordo do robot “Perseverance”. Agora, faz parte da equipa que recolhe e analisa amostras minerais por todo o mundo – os chamados "análogos de Marte".
“Esta missão é importante por uma série de fatores”, diz à Renascença. Desde logo, porque, “desde 1976, com as missões 'Viking', que não se ia à procura de vida em Marte”.
Em segundo lugar, “é uma missão que puxa muito as fronteiras. Vai levar um pequeno helicóptero e instrumentos que nunca estiveram na superfície de Marte em operação”, entre os quais o “Moxie” – “basicamente, um pequeno reator que vai tentar produzir oxigénio a partir do dióxido de carbono da atmosfera de Marte”.
“Isso é muitíssimo importante, tanto para a ocupação humana como para a produção de combustível para recuperar as amostras” que o robot está agora a recolher, sublinha.
É que ainda “está a ser estudada a missão” que irá, mais tarde, buscar essas amostras. Saber se é possível produzir combustível a partir da atmosfera de Marte é um dos fatores determinantes.
“Neste momento, o que eles estão a fazer é a recolher amostras, provar o conceito de que conseguem recolher amostras, conseguem deixá-las num local e esse local ser um local preciso – portanto, sei que as deixei ali. Isso depois será recuperado no futuro”, explica.
Mas daqui a quanto tempo se poderá ir buscar as amostras? “Estamos a falar de quase uma década para as ir buscar”, diz Joana Neto Lima.
É que, “geralmente, estas missões têm uma duração programada de um mínimo de um ano marciano, que é o correspondente a cerca de dois anos na Terra. Mas, como já vimos com o 'Curiosity' e com o 'Oportunity', irá ser renovado enquanto reportar dados novos para a comunidade científica”.
Assim, e tendo em conta que o ‘Perseverance’ “leva uma bateria de testes e instrumentos herdados e que evolucionam de missões anteriores”, possuindo já grande complexidade, “tem capacidade para operar durante muito tempo. Leva um pequenino reator nuclear, não está dependente do Sol e funciona enquanto puder”, explica a astrobióloga.
Assim, “a missão pode ser renovada mais umas cinco vezes”, o que significa “uma década de operação”.
No que difere esta missão da de outros países?
Joana Neto Lima diz que a missão da NASA que ontem começou de modo mais concreto tem muitos mais fatores de complexidade do que as lançadas, por exemplo, pelos Emirados Árabes Unidos e a China.
“Estamos a falar de complexidade completamente diferente. A Amal, dos Emirados Unidos, é basicamente um orbitador, enquanto a da China é um pequenino orbitador que, dentro de pouco tempo, irá tentar fazer pousar um pequeno rover na superfície de Marte. Estamos a falar de coisas muito menos complexas do que o 'Perseverance', que é um rover com o tamanho de um carro pequenino”, que “pesa certa de uma tonelada”, afirma.
“Estamos a falar de uma tonelada de material que conseguiram fazer aterrar em perfeitas condições, no local onde queriam e que é capaz de sacar muito mais informação”, sublinha, não retirando importância às missões de outros países.
“Não quer dizer que, no futuro, estes novos competidores – incluindo a Índia que já no passado enviou um orbitador e que continua em Marte – não consigam chegar ao nível da NASA e que complementem os seus objetivos aquilo que estamos a ver com estas missões”, conclui.
O “Preseverance” pousou em Marte na quinta-feira à noite, às 20h56 (hora de Lisboa). Vai recolher amostras do solo e de outros elementos que possam responder à questão: há ou já houve vida no Planeta Vermelho?