Pedro Antunes, de 34 anos, é um dos três diáconos da arquidiocese de Braga que vai ser ordenado padre este domingo. É natural de Azurém, Guimarães, mas a sua paróquia de origem é Santa Maria do Bouro, em Amares. À conversa com a Renascença afirma-se como “alguém que, acima de tudo, quer servir a Igreja”. Conta que realizou outros ofícios e estudos distantes da religião, mas num determinado momento percebeu que Deus o estaria a chamar para fazer algo diferente e que “só conseguiria alcançar a realização e a felicidade plenas se seguisse o caminho de discernimento para o sacerdócio”.
Já o diácono Jorge Miguel Rodrigues, natural de São João Baptista de Nogueira, em Braga, admite que sempre teve uma grande proximidade com a religião. Além do testemunho familiar, diz que houve muitas “histórias e rostos” e “pequenos sinais e gestos” que o levaram a querer aprofundar o seu caminho. E que foi a “ânsia de tentar passar os ensinamentos religiosos para a vida” que o ajudou a perceber Deus, “que não está distante, não está noutro mundo, mas habita a realidade de cada um”.
Paulo Pereira, natural de Santa Marinha de Covide, em Terras de Bouro, conta, por seu lado, que o vínculo com a religião surgiu um pouco por acaso. Estava no sétimo ano, quando um dos seus amigos o desafiou a frequentar alguns encontros pré-Seminário, uma vez que não queria ir sozinho. De um favor a um amigo, ficou a vontade de continuar a ir.
Dois anos mais tarde, Paulo Pereira ingressou no Seminário Menor. A hipótese de vir a ser padre ainda não estava em cima da mesa, mas aos poucos, “através de pequenos sinais, pessoas e rostos”, percebeu que Deus o chamava.
Ordenação: “é um momento que faz parte da caminhada”
Com a aproximação da concretização de um sonho, Pedro Antunes refere que é normal que se sintam “cheios”, porque, “invariavelmente, é um momento em que temos alguma notoriedade mediática”. Mas é importante ter “os pés bem assentes na terra”, com a consciência de que é um passo necessário para realizar a vontade de Deus. “É um momento que faz parte da caminhada”, diz.
Já Paulo Pereira vê a sua ordenação sacerdotal como um ponto de chegada, “na medida em que é o culminar de um processo e de formação”, mas também como “ponto de partida para a missão que me vai ser pedida a partir daqui”.
Também para Miguel Rodrigues o momento da ordenação não é um fim, mas pode significar o começo de muita coisa. “Ser ordenado é uma possibilidade que se abre. É mais uma nuvem que se dissipa e que se expande no céu, é um rasto a continuar a percorrer e a continuar a descobrir aos bocadinhos”, afirma.
As restrições da pandemia
O contexto pandémico obriga a que a cerimónia de ordenação sacerdotal tenha uma logística diferente do habitual. Entre sorrisos, Pedro Antunes afirma: “não traz um novo significado à ordenação, mas traz muitas dores de cabeça”.
Lamenta que as restrições sanitárias abriguem ainda algum afastamento dos fiéis, mas considera que “a Igreja tem de ter humildade e não cair na tentação de querer ser sempre uma Igreja de massas. Celebrar uma Eucaristia com uma pessoa ou celebrar uma Eucaristia com uma assembleia de 250 ou 600 pessoas tem o mesmo valor. As pessoas têm todas a mesma dignidade”, sublinha, acrescentando que há coisas que a Igreja pode fazer para se tornar mais próxima das pessoas, sobretudo nos momentos mais decisivos e de maior dificuldade.
Noutra perspetiva, o diácono Miguel Rodrigues acredita que a pandemia veio ajudar a valorizar as relações. “Temos tido expressões tão significativas e tão concretas de carinho, de afeto, de gente que se preocupa e nos telefona, manda mensagem, diz o quanto gostaria de estar, mas, se calhar, não consegue. Isto pode parecer contraditório, mas a pandemia até veio pessoalizar um bocadinho mais as coisas”, declara, acrescentando: “temos tanta gente que está ali de forma incansável, independentemente dos medos e dos receios. Essa intimidade e essa força é algo muito marcante e não há pandemia que apague isso”.
A ordenação “é uma espécie de casamento”
Aos três diáconos da arquidiocese de Braga que serão ordenados padres este domingo, junta-se Francisco Cortês Ferreira, da Companhia de Jesus. Ao fim de 12 anos de preparação, vê a ordenação sacerdotal como “o deslizar para a reta final de um processo, de um caminho de aprendizagem, de amadurecimento pessoal”, em que as peças se estão a encaixar no momento e no sítio certo.
“É uma espécie de casamento, com um namoro longo, em que uma pessoa chega ao fim e as partes já se conhecem tão bem que é o que deve ser, a pessoa faz o que é justo e casa. Eu ordeno-me padre, porque é o que acho ser justo no momento justo”, confessa.
“Ser jesuíta é um modo de vida, um modo de olhar o mundo, de fazer certas escolhas sobre aquilo que queremos fazer e o modo como queremos viver”, conta ainda à Renascença, acrescentando que se sente como “alguém que tenta, como pode e a cada dia, servir a Deus”, com o desejo “de querer fazer melhor”.
Francisco Ferreira valoriza o facto de ir ser ordenado em conjunto com os diáconos diocesanos, porque isso contraria a ideia de uma igreja “manta de retalhos”, quando, de facto, é “única e una”.
O diácono Pedro Antunes concorda, porque “mesmo dentro da Igreja, muitas vezes temos esta tentação de olhar para as coisas a partir das nossas capelinhas, das nossas casas pessoais e dos nossos interesses. Só estamos interessados em que a nossa casa prospere”, mas “estamos todos unidos em Cristo”.
Da mesma forma, Miguel Rodrigues acredita que “só nesta união de esforços, nesta partilha muito afetiva e efetiva, é que nos tornamos na expressão de Cristo. Um Cristo que não faz acepção de pessoas. Não há isto melhor ou pior, não há este que sabe mais e o outro que sabe menos, há gente que quer caminhar, que está a descobrir e se identifica com o Mestre”.
“Deus não chama apenas os capacitados, mas capacita aqueles que chama”
Para aqueles que possam querer seguir os passos do sacerdócio, Pedro Antunes diz que o caminho passa pela confiança, em si próprios, naqueles que os rodeiam e em Deus. Mas admite que não é um caminho fácil no mundo de hoje. “Fazer parte de uma congregação religiosa sai fora do paradigma da felicidade que a maioria das pessoas tem, mas isto também é uma possibilidade de felicidade”, garante.
Paulo Pereira não esconde que teve momentos de dúvida sobre qual o caminho certo, mas o conselho que deixa é que não se tenha medo, até porque nunca se está sozinho e “Deus não chama apenas os capacitados, mas também capacita aqueles que chama”.
Já Miguel Rodrigues diz que é importante “não deixar que o tempo nos aprisione, mas que nos liberte para o encontro com o outro” e considera essencial aproveitar a vida para arriscar questionar.
“A nuvem faz sombra e parece que escurece, mas, por outro lado, quando a luz é de tal forma intensa, também não nos deixa ficar encadeados com o sol e permite-nos ver mais além. E, às vezes, as dúvidas têm essa função: de nos fazer parar, de nos fazer olhar com maior clareza, com maior distância”.
Francisco Ferreira diz que é fundamental “confiar, estar atento à voz do Espírito” e “perseverar na adversidade”, pois ser cristão hoje em dia não é fácil, “é estar pronto para ser objeto de crítica, de escárnio e de desprezo”. No seu caso pessoal não há dúvidas: “quero continuar e escolho Cristo”.
A ordenação dos quatros novos sacerdotes – três diocesanos e um jesuíta - vai decorrer na Cripta do Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, às 15h30 deste domingo e será presidida pelo arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga. O contexto pandémico obriga a que tenha lotação limitada, mas a celebração terá transmissão online, através do canal de YouTube e da página de Facebook da Arquidiocese de Braga.