A Ordem dos Arquitetos diz-se preocupada quanto à possibilidade de uma nova vaga de emigração de profissionais, motivada por uma crise nos setores da habitação e da construção.
Em declarações à Renascença, por ocasião do Dia Mundial da Arquitetura, que se assinala esta segunda-feira, o presidente eleito do órgão regulador da profissão, Avelino Oliveira, lembra que “esse cenário já ocorreu na década de 90” do século passado.
E, nesta altura, Oliveira reconhece que “já existem alguns dados que podem eventualmente indiciar uma crise no setor da construção”, o que leva este responsável a temer uma repetição da fuga de arquitetos portugueses para o estrangeiro.
Ou isso, ou a saída de profissionais “para áreas conexas da arquitetura”, que é outra das saídas para uma classe profissional que, perante situações de crise, “não parte para a contestação social, prefere encontrar soluções”.
Para quem opta por sair do país, as soluções de emigração concentram-se maioritariamente “em países europeus, que têm melhores condições salariais em que os profissionais facilmente triplicam e quadruplicam as bases salariais que têm em Portugal”.
Mas há uma nova tendência: “temos, neste momento, também, indicadores de que há muita procura até de países da Ásia, e mesma a Austrália”.
Para o presidente eleito da Ordem dos Arquitetos, “é, por um lado, positivo que isso aconteça”, desde que "dentro de uma determinada dimensão”.
Já uma "vaga de emigração ligada a uma situação de crise no setor é que é mais preocupante”.
“Contrassenso”. Um em cada cinco arquitetos recebe o salário mínimo... ou menos
A juntar à crise nos setores da construção e da habitação, onde a ação profissional dos arquitetos é preponderante, os baixos salários representam outro problema para a classe.
De acordo com o inquérito do Observatório da Profissão, da Ordem dos Arquitetos, um em cada cinco profissionais recebe o correspondente ou abaixo do salário mínimo.
O mesmo levantamento acrescente que a remuneração média dos arquitetos ronda os 1.000 euros, na combinação entre profissionais do setor público e do setor privado.
“Estamos na cauda da Europa”, constata Avelino Oliveira.
Sendo o curso de Arquitetura um dos que têm média de acesso mais elevada e, tendo em conta o investimento elevado em material pago pelas famílias, Avelino Oliveira fala de “contrassenso”, que se reflete, também, no facto de as questões relacionadas com o futuro da habitação estarem no centro da discussão política e social.
“As próximas eleições europeias vão demonstrar isso; nas próximas eleições autárquicas, vamos discutir habitação nas principais cidades”, lembra este responsável, que, por outro lado, lamenta que não exista na sociedade portuguesa "a valorização devida da importância dos serviços dos arquitetos e eu acho que isso é um contrassenso”.
“As nossas escolas de arquitetura são muito valorizadas. Somos procurados por muitos colegas internacionais e até estudantes internacionais e depois não temos o correspondente equilíbrio”, remata.