As metas anuais para a sinistralidade rodoviária em 2030 deverão situar-se em cerca de 300 mortes e mil feridos graves, segundo um relatório técnico feito pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
No relatório, feito no âmbito da estratégia de segurança rodoviária para a próxima década - a "Visão Zero2030" -, salienta-se que não há soluções simples para atingir a meta de reduzir em 50% os mortos e feridos na estrada até 2030 - por exemplo, se ninguém conduzisse sob o efeito do álcool, isso "apenas reduziria o número de mortos em 33%".
Nas recomendações, destaca-se que são precisas medidas adequadas a dois tipos principais de cenários: zonas urbanas e zonas rurais, para as quais "os indicadores de sinistralidade são consideravelmente diferentes".
Os peritos do LNEC, que trabalharam com a Universidade de Tecnologia de Delft, nos Países Baixos, e com um Conselho Executivo de não-Especialistas, defendem "a adoção nacional" à meta de redução em 50% da sinistralidade até 2030, seguindo orientações das Nações Unidas e da política de transportes definida para a União Europeia, admitindo duas hipóteses para o cálculo dos valores de referência.
Prevendo um aumento de tráfego de ciclistas e de motociclistas ao longo desta década, estima-se que, a conseguir atingir a meta, "seriam evitadas 517 ou 513 mortes rodoviárias" no ano de 2030.
No relatório refere-se, como exemplo da diferença entre zonas urbanas e rurais, que 30% dos acidentes e 19% dos mortos acontece em cruzamentos de zonas urbanas, enquanto em zonas rurais os acidentes em nós de ligação de autoestradas provocaram 3% dos mortos e os que aconteceram em intersecções de estradas com faixa de rodagem única causaram 09% das mortes.
"Os condutores de automóveis (66%) e os ocupantes de veículos de duas rodas com motor (20%) constituem a maioria dos mortos nas estradas rurais; por seu turno, a maioria dos mortos em zonas urbanas ocorreu em automóveis (40%), veículos de duas rodas com motor (36%) e outros veículos (15%)", acrescenta-se.
Conclui-se que "os motociclistas e os condutores de automóveis constituem os alvos preferenciais das intervenções em estradas rurais", enquanto "nas zonas urbanas, as intervenções irão predominantemente mitigar os problemas de segurança de peões (18% do total de mortos), dos ocupantes de veículos de duas rodas com motor (motociclos e ciclomotores) e dos ciclistas e, indiretamente, dos ocupantes de automóveis".
Média de mortes na última década é de 633,3 por ano
Desde 1999, altura em que a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) começou a partilhar os relatórios de sinistralidade rodoviária, tem havido uma tendência de descina na mortalidade nas estradas nacionais.
Se, no final do século, Portugal continental registava 1750 vítimas mortais, a mortalidade desceu no século XXI e 2006 foi o primeiro ano a registar números de mortalidade abaixo dos mil (850).
Nos anos seguintes, a mortalidade continuou a descer, porém, em 2010, registaram-se 937 vítimas mortais, resultado de 35.426 acidentes com vítimas e, ainda, 2.475 feridos graves e 43.890 feridos ligeiros, devido a acidentes, em Portugal Continental, segundo dados da ANSR
A década seguinte apresentou uma evolução positiva de todos estes números, mas a tendência dos últimos anos tem sido de estabilização e não de descida.
Em 2011, registaram-se 891 vítimas mortais e em 2012, o número baixou para 718. Em 2013, caiu ainda mais, registando-se 637 vítimas mortais, em 2014 registou-se mais uma do que no ano anterior, e, em 2015 e 2016, o número baixou para a casa dos quinhentos - 593 e 563, respetivamente.
No entanto, em 2017 (602), 2018 (675, o maior aumento de vítimas mortais desde o início da década) e 2019 (626), a mortalidade nas estradas de Portugal continental ficou sempre acima da marca dos seiscentos.
2020 foi um ano atípico e registou uma quebra considerável em todas as estatísticas da sinistralidade. Portugal continental registou 390 mortes nas estradas, no ano passado.
No relatório anual de 2020, a ANSR nota que "a sinistralidade rodoviária, como muitos outros fenómenos da sociedade, foi fortemente condicionada em Portugal, na Europa e no Mundo, pelas alterações verificadas na mobilidade", devido à pandemia da Covid-19.
A verdade é que, mesmo com os números atípicos de 2020, a média de mortes na última década é de 633,3 por ano. Ou seja, mais do dobro das metas anuais para 2030, indicadas pelo relatório técnico feito pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
No entanto, a tendência de redução da sinistalidade rodoviária parece estar a manter-se em 2021.
Entre janeiro e abril de 2021 registaram-se 6.515 acidentes com vítimas no Continente, de que resultaram 74 vítimas mortais, 444 feridos graves e 7.360 feridos leves, segundo dados da ANSR.
Os valores apurados revelam uma melhoria nos principais indicadores de sinistralidade, comparativamente com o período homólogo de 2020: verificaram-se menos 1.128 acidentes com vítimas (-14,8%), menos 24 vítimas mortais (-24,5%), menos 26 feridos graves (-5,5%) e menos 1.643 feridos leves (-18,2%).