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Sem jovens com um papel mais liderante Portugal perde “tempo histórico” e ficará “irremediavelmente para trás”, alertou esta quinta-feira o Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa considera que a sociedade portuguesa ainda é "conservadora, ultrapassada, reacionária" em relação à juventude.
O apelo e o recado foram deixados por Marcelo Rebelo de Sousa numa mensagem em vídeo à Conferência Mundo em transição - O poder dos jovens na mudança global, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, uma iniciativa da Renascença em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Para o chefe de Estado, o papel da juventude num mundo globalizado e em mudança acelerada é importantíssimo.
As novas gerações jogam na “antecipação”. Basta constatar que têm colocado os grandes temas na agenda, muitas vezes, apesar das reticências dos chamados “Velhos do Restelo” ou “mesmo quando parece” um cenário “muito longínquo”, sublinha.
“Quem é que arrancou com as grandes campanhas nas alterações climáticas? Os jovens. Quem é que arrancou com as campanhas em termos de transição da energia? Quem é que teve um papel piloto fundamental nas startups e na revolução digital? Quem é que pilotou grandes movimentos relativamente às migrações e à inclusão social? Os jovens”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo apela a sobressalto jovem, porque "ninguém luta por eles”
Os mais velhos podem e devem ter “espírito aberto”, mas são os jovens que vão sofrer no futuro as consequências das decisões tomadas hoje.
“Podemos e devemos ter o espírito aberto, mas não vamos viver esse tempo e os jovens percebem que têm direito a lutar por esse tempo, senão, ninguém luta por eles”, defende o Presidente.
Marcelo Rebelo de Sousa considera que “não vale a pena esconder o Sol atrás do dedo”, porque “vão ser os jovens a ter o papel liderante nas grandes transformações deste mundo globalizado”.
“E ou nós percebemos isso, não travamos e, antes, estimulamos isso, não ficamos atrasados e não perdemos tempo histórico, ou perdemos tempo histórico. Outros não perdem, nós perdemos”, sublinha.
O chefe de Estado apela a um sobressalto jovem e a uma mudança na sociedade portuguesa, sob pena de um futuro sombrio.
“Ou as instituições se transformam, ou as pessoas e as mentalidades se transformam à medida dessa necessidade imposta por novos desafios, ou então ficamos irremediavelmente para trás.”
Jovens nos centros de decisão e o exemplo do 25 de Abril
O Presidente defende que a sociedade portuguesa deve reconhecer e valorizar mais os jovens na composição dos órgãos de soberania, do poder local e regional, nos parceiros económicos e sociais, na gestão da atividade económica e social, na gestão das próprias universidades e politécnicos.
As sociedades mais dinâmicas, destaca, “são as que dão um papel mais claro e mais liderante aos jovens. É essa a diferença entre os regimes a nascerem e a subirem e os regimes a descerem e a morrerem com as situações políticas, económicas e sociais”.
Marcelo Rebelo de Sousa dá o exemplo da revolução do 25 de Abril, que trouxe a democracia a Portugal e que foi liderada por jovens.
No caso dos regimes que nascem e crescem, “vê-se a liderar a transformação pessoas jovens de 20, quanto muito 30 anos. Foi assim no 25 de Abril”.
“O oposto é, 50 anos depois, estarmos a falar em pessoas de 60, 70, 80 anos e dizer-se, quando aparece alguém de 30 ou 40 anos: ‘é muito jovem’. Mas é muito jovem para quê? Não foi jovem para criar um regime novo, não foi jovem para fazer rupturas históricas ao longo da História, pelo menos, contemporânea.”
Marcelo Rebelo de Sousa considera que há um “problema de mentalidade” a resolver, “mas por aqui passa também muito da resposta ao papel dos jovens”.
Não são os mais velhos que devem definir o papel que os jovens têm na construção do seu futuro. “Quem o define são eles e o define com mais arejamento, maior abertura, maior inovação e criatividade do que nós”, afirma.
“Se o vosso encontro de hoje servir para, pelo menos, partir desta base de raciocínio e de entendimento, então é um contributo muito importante da sociedade portuguesa, tantas vezes tão conservadora, ultrapassada, reacionária quando se trata do problema da juventude”, conclui o Presidente da República.