O Papa Francisco encontrou-se esta segunda-feira com jovens em Atenas, na Grécia, e disse-lhes que o Cristianismo não é uma obrigação mas um caminho de relação com Jesus.
Por isso, como em qualquer relação, os jovens não deviam ter medo das dúvidas e das dificuldades, pois estas acabam por fortalecer a fé. “Não tenhais medo das dúvidas, porque não são faltas de fé. Antes pelo contrário, as dúvidas são ‘vitaminas da fé’: ajudam a robustecê-la, tornando-a mais forte, ou seja, mais consciente, mais livre, mais madura. Tornam-na mais disposta a pôr-se a caminho, a seguir em frente com humildade, dia após dia.”
“Ora, a fé é precisamente isto: um caminho quotidiano com Jesus, que nos leva pela mão, acompanha, encoraja e, quando caímos, levanta-nos. É como uma história de amor, onde se avança sempre juntos, dia-a-dia; e contudo sobrevêm, como numa história de amor, momentos em que há necessidade de se interrogar, de superar as dúvidas. E é útil, faz subir o nível do relacionamento”, disse Francisco.
Este entendimento de que Deus os ama sem reservas, não obstante os pecados e as falhas, é algo que deve encher os jovens e todos os cristãos de espanto, considera Francisco. “O âmago da fé não é uma ideia nem uma moral, mas uma realidade, uma realidade belíssima que não depende de nós e que nos deixa de boca aberta: somos filhos amados de Deus! Filhos amados: temos um Pai que olha por nós sem nunca cessar de amar-nos. Pensemos nisto: seja o que for que tu penses ou faças, mesmo que sejam as coisas piores, Deus continua a amar-te. Sempre e apesar de tudo.”
Por tudo isto, diz o Papa, importa recordar que a fé não é nunca uma obrigação ou uma lista de deveres e proibições.
“Não somos cristãos porque temos de o ser, mas porque é estupendo”, sublinhou Francisco aos jovens. “E, precisamente para preservar esta beleza, dizemos não àquilo que a quer obscurecer. A alegria do Evangelho, a maravilha de Jesus faz as renúncias e as fadigas passarem para segundo plano. Então estais de acordo? Recomecemos do espanto! Com quê? Com a criação, a amizade, o perdão de Deus, o rosto dos outros.”
“Espantosas maravilhas”
Neste encontro que encerra a viagem do Papa à Grécia, Francisco convidou ainda os jovens a compreender e deixar-se encher de espanto com a forma como Deus os vê e, dessa perspetiva, entender a dimensão do perdão.
“Se a criação é bela aos nossos olhos, aos olhos de Deus cada um de vós é infinitamente mais belo. Ele fez de nós, como diz a Escritura, ‘espantosas maravilhas’. Deixa-te invadir por este espanto. Deixa-te amar por Quem sempre crê em ti, por Quem te ama mais de quanto consigas, tu próprio, amar-te.”
“E quando ficais desiludidos com o que fizestes, há um outro espanto que não haveis de deixar fugir: o espanto do perdão. Aqui encontram-se de novo o rosto do Pai e a paz do coração. Aqui faz-nos novos, derrama o seu amor num abraço que nos levanta, que desintegra o mal cometido e volta a fazer brilhar a beleza incancelável que há em nós: a de sermos seus filhos prediletos. Não permitamos que a preguiça, o medo ou a vergonha nos roubem o tesouro do perdão. Deixemo-nos maravilhar pelo amor de Deus”, pediu Francisco.
Assim, os jovens devem perceber que o que lhes dá valor não são as coisas exteriores, mas o mero facto de serem criados e amados por Deus. “Reconhece que vales por aquilo que és, não pelo que tens. Não vales pela marca da roupa ou pelos sapatos que usas, mas porque és único, és única.”
Francisco voltou ainda a um tema que tem repetido nos seus encontros com os jovens, enfatizando a necessidade de apostar nas relações reais com outras pessoas, fugindo de uma existência assente apenas no virtual.
“Queres fazer algo de novo na vida? Queres rejuvenescer? Não te contentes em publicar qualquer ‘post’ ou algum ‘tweet’. Não te contentes com encontros virtuais, mas procura os reais, sobretudo com quem tem necessidade de ti: não procures a visibilidade, mas os invisíveis. Isto sim; é ser original, revolucionário.”
“Há tantos hoje que são muito ‘social’, mas pouco sociais: fechados em si mesmos, prisioneiros do telemóvel que trazem na mão, mas no visor falta o outro, faltam os seus olhos, a sua respiração, as suas mãos. O visor torna-se facilmente num espelho, onde julgas ter diante de ti o mundo, quando na realidade estás sozinho, num mundo virtual cheio de aparências, de fotografias maquilhadas para parecer sempre belos e em forma”, considera Francisco.
Deste encontro com os jovens Francisco segue diretamente para o aeroporto, onde apanha um avião de volta para Roma. A sua viagem a Chipre e à Grécia começou no dia 2 de dezembro.