A Universidade de Coimbra (UC) integra um projeto internacional que pretende aumentar a resiliência da apicultura a fatores de stress abióticos, como mudanças climáticas, perda de habitat e compostos químicos, nomeadamente pesticidas.
Segundo o coordenador do projeto na UC, José Paulo Sousa, “as colónias de abelhas melíferas estão muitas vezes mal adaptadas para lidar com estes fatores de stress, em grande parte devido às práticas modernas de apicultura”, apontando que “a chave para uma apicultura resiliente é aproveitar o poder da natureza para restaurar a harmonia e o equilíbrio dentro das colónias e entre as colónias e o meio ambiente, ambos perturbados pelas atividades humanas”.
Neste contexto, o investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC considera que a solução passa por “compreender os processos e mecanismos que se aplicam na natureza e adaptar as práticas apícolas modernas e a tomada de decisões em conformidade, e quando adequado, utilizando os benefícios das tecnologias avançadas”.
Denominado “Better-B”, o projeto é financiado pelo Horizonte Europa, programa para o financiamento da investigação e da inovação na União Europeia, junta 17 instituições de vários países e foi contemplado com cerca de seis milhões de euros
De acordo com a Universidade de Coimbra, no âmbito do “Better-B”, será realizada uma “avaliação da qualidade dos recursos florais em diferentes habitats e ainda as interações entre planta-polinizador, de forma a compreender melhor os fenómenos de competição entre as abelhas melíferas e espécies de polinizadores selvagens em situações de abundância e escassez de recursos, recorrendo a monitorização e experimentação”.
Os dados recolhidos servirão para alimentar modelos para avaliar a “capacidade de carga” de diferentes tipos de habitats e, ainda, para desenvolver ferramentas de tomada de decisão sobre como melhorar a estrutura do habitat em termos de recursos alimentares e balancear a atividade apícola e conservação/aumento da biodiversidade de polinizadores.
A equipa do “Better-B” irá também avaliar o impacto da “complexidade da paisagem e da contaminação por pesticidas no desempenho das colónias”, utilizando métodos de avaliação desenvolvidos e testados no âmbito do projeto “B-Good”, do qual a FCTUC faz parte e que tem como objetivo geral fornecer orientação aos apicultores e ajudá-los a tomar decisões melhores e mais informadas.
“Serão avaliados os efeitos de determinados fatores abióticos na sensibilidade a pesticidas, realizando ensaios ecotoxicológicos com abelhas melíferas para avaliação de efeitos letais e sub-letais. A UC é a única instituição de ensino superior em Portugal a realizar este tipo de ensaios”, destaca o investigador.
Neste projeto será igualmente avaliado o impacto da Vespa velutina nigrithorax, também conhecida como vespa asiática, nas colónias de abelhas.
“Aqui, utilizaremos métodos de monitorização e será uma extensão de dois projetos da UC em parceria com as comunidades intermunicipais das regiões de Coimbra e Viseu-Dão-Lafões”, adianta José Paulo Sousa.