“Inaceitável”. Santos Silva diz que parceria com Bielorrússia “está severamente prejudicada”
24-05-2021 - 11:55
 • Marta Grosso , Beatriz Lopes (entrevista)

Ministro dos Negócios Estrangeiros condena com veemência o desvio do avião para um aeroporto bielorrusso e a detenção do jornalista. Texto comum de vários países fala em “ato de pirataria”.

O Ministério português dos Negócios Estrangeiros condena a aterragem forçada na Bielorrússia de um avião onde seguia um jornalista e opositor ao regime bielorrusso, que acabou por ser detido em Minsk.

“Isto é absolutamente inaceitável”, diz Augusto Santos Silva em entrevista à Renascença, apontado dois motivos pelos quais a atitude da Bielorrússia é condenável.

“O primeiro ato é a interceção 'manu militari' de um voo civil. É ilegal, põe em questão o mínimo essencial no que diz respeito à segurança das ligações aéreas na Europa. O segundo ato é a detenção, através destes meios extremos, de um jornalista e ativista da Bielorrússia, no que isso configura mais uma violação, por parte do regime bielorrusso, de liberdades fundamentais, como são as liberdades de expressão e imprensa”, indica.

Nesta segunda-feira, os líderes da União Europeia discutem, no Conselho Europeu extraordinário, possíveis sanções à Bielorrússia.

O encontro está marcado para as 18h00 e Santos Silva antecipa o agravamento de sanções contra o regime de Minsk, considerando que este episódio pode colocar em causa a Parceria Oriental.

“Além da condenação política e da condenação e isolamento diplomático, a União Europeia tem outros instrumentos como o regime de sanções, mas também, por exemplo este: a Bielorrússia faz parte da chamada Parceria Oriental, isto é, é um dos seis Estados do Leste Europeu não membros da União Europeia que tem uma parceria muito próxima com a União Europeia e evidentemente esta parceria está hoje severamente prejudicada”, afirma.

Condenação internacional a “ato de pirataria”

A França sugere que o espaço aéreo da Bielorrússia seja interdito. Independentemente de outras medidas que venham a ser tomadas, o secretário de Estado francês dos Assuntos Europeus disse, nesta manhã de segunda-feira, que é preciso agir com rapidez e proibir o espaço aéreo da Bielorrússia pode ser uma maneira de proteger os cidadãos europeus.

A Grã-Bretanha também já veio garantir que disse que Alexander Lukashenko enfrenta “graves consequências”, depois do episódio de domingo.

Uma centena de autoridades bielorrussas, incluindo o Presidente Alexander Lukashenko, já estão sob sanções europeias por causa de violações dos direitos humanos nesta ex-república soviética.

Num texto conjunto, os deputados da República Checa, da Lituânia, da Alemanha, da Irlanda e da Polónia falam em “ato de pirataria aérea”.

“Isto é um ato de pirataria aérea, combinado com sequestro de avião e, eventualmente, ligado a um rapto”, afirmou o deputado britânico conservador Tom Tugendhat à rádio do jornal “The Times”. São, por isso, necessárias mais sanções, defendeu.

Além de Tugendhat e dos outros deputados, assinam o comunicado os Estados Unidos.

No domingo, o comandante de um avião com 171 passageiros, que fazia a ligação entre a Grécia e a Lituânia, foi alertado para a existência de uma bomba a bordo quando estava quase no fim da viagem.

O aparelho acabou por aterrar em Minsk, capital da Bielorrússia, rodeado de caças, altura em que o jornalista da oposição Roman Protasevich, de 26 anos, foi preso pelos serviços de segurança do Estado bielorrusso.

O CEO da Ryanair também já reagiu e classificou o sucedido de sequestro com patrocínio estatal.

Em declarações a uma radio irlandesa, Michael O'Leary não se alongou em comentários porque, diz, o caso está a ser investigado pelas autoridades europeias e pela NATO.