Duas capelas do seminário de Braga venceram, em março, o prémio ArchDaily, na categoria de arquitetura religiosa. O galardão é atribuído pelo site da área com mais visitas na internet.
Dois portugueses – André e António Jorge Fontes – e o artista nórdico Asbjörn Andresen, assinam o projeto de requalificação da capela da Imaculada Conceição e do coro-alto, chamado agora capela “Cheia de Graça”.
Quando entramos na Capela da Imaculada no Seminário em Braga, entramos numa floresta. Há pilares de madeira que se assemelham a árvores que desenham uma encruzilhada de caminhos. Aqui, “todos os sonhos são possíveis”, diz o Cónego Joaquim Félix, o cicerone da visita.
“Neste bosque os caminhos são muitos e não são apenas para os pés. São caminhos dos alargamentos mentais que nos fazem sonhar”.
Nesta viagem pela capela “nada é imediato”, avisa o responsável da Arquidiocese de Braga. “Este não é um espaço para se ver”, mas está repleto de “denso sentido” e “não de utilidade”, alerta. Daí, que as perguntas se multipliquem.
A primeira questão surge poucos passos depois. O que faz uma cadeira isolada no percurso junto a uma pedra com um ouvido esculpido em mármore? “É um apelo ao diálogo profundo entre Deus e a humanidade”, responde o nosso guia que convida a deixar para trás a soleira da porta e continuar a caminhada.
O silêncio acompanha-nos, tal como, o perfume dos diferentes tipos de madeira que compõem o espaço. O cheiro não passa despercebido, tal como, a imagem de uma senhora, de cabelo apanhado em pucho, sentada sozinha no meio da imensidão de cadeiras vazias. “É Maria, Senhora da humildade”, apresenta. A escultura do nórdico Asbjörn Andresen dá-nos a conhecer Maria, Mãe de Jesus de Nazaré.
O autor “não seguiu o cânone da beleza feminina contemporânea porque isso é muito efémero” explica-nos Joaquim Félix. O objetivo, acrescenta, “é que quem olhe para ela veja a sua mãe ou avó e, só depois, imagine que esta é a Mãe de Jesus. É uma descoberta que precisa de tempo”.
É o olhar desta presença simples e honesta de Maria que nos orienta para o altar que rompe a geografia comum das igrejas portuguesas ao ocupar o centro da capela.
Chegados aqui, olhamos para o antigo coro alto, agora, convertido na capela “Cheia de Graça” reservada aos seminaristas. A estrutura feita madeira aparece-nos suspensa. Percebemos que a capela é a copa da floreta por onde entramos no início da nossa visita. É uma “plataforma de vertigem pela qual se pode subir pelos ramos”, descreve Joaquim Félix que sobre as lamelas de madeira que unem os ramos explica que este é o lugar reservado “aos anjos” para “se sentarem e cantarem”.