Na terça-feira à noite aterrei em Roma, depois de uma viagem de avião, em que, pela primeira vez na vida, me veio à cabeça por um instante que, nos dias que correm, viajar de avião pode significar arriscar a vida.
Foi um pensamento que afastei de imediato, como quem põe para trás das costas uma angústia exagerada e ridícula. Nessa mesma noite, chegada ao hotel ligo a televisão e acompanho ao longo de horas o horror no aeroporto de Istambul. Afinal, aquele "flash" que tive ainda no aeroporto da Portela não era assim tão disparatado, a não ser para aqueles que acham que o facto de Portugal ser um país pacato e pequeno nos protege, coisa que no fundo todos achamos.
Talvez seja por causa desta experiência recente que não posso deixar de me manifestar profundamente chocada com a indiferença com que, hoje, o país e o mais alto magistrado da nação assistiram impávidos e sem reacção que se visse ao desfraldar da bandeira desse grupo de bandidos e selvagens que se auto-intitula Estado Islâmico.
Ainda bem que a democracia e o parlamento madeirense têm lugar para uma “manifestação criativa”, diz o Presidente.
Devo ser eu que sou maluca, mas achava que nos parlamentos havia um dever de respeito por quem lá está e pela instituição. Sempre achei que era por isso que se expulsavam os cidadãos que vão ao hemiciclo dar voz à sua indignação. Afinal, enganei-me e todos os que foram expulsos deviam agora reclamar os seus direitos.
Não percebo também porque é que o mesmo senhor Coelho que hoje apareceu com a bandeira “criativa” do Daesh foi expulso do mesmo parlamento no dia em que decidiu exibir-se como veio ao mundo.
Afinal, o que é que o país tem contra o rabo do senhor Coelho? Porque é que um rabo ao leu é pior do que a bandeira do Daesh?
Peça uma indemnização por danos morais, senhor Coelho. O Presidente Marcelo há-de dar-lhe razão.