O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, avistou-se esta terça-feira com a líder da oposição bielorrussa, Sviatlana Tsikhanouskaya, em Vilnius, e anteviu a queda do atual "ditador da Bielorrússia", Alexander Lukashenko.
O chefe da diplomacia portuguesa participou num evento à margem da cimeira [da NATO], que hoje começou na capital da Lituânia, com Tsikhanouskaya, que se encontra exilada nesta cidade, e com a homóloga da Islândia, Thordis Gylfadottir, com vista a debater o papel da Bielorrússia na segurança europeia e euroatlântica.
Num discurso escrito enviado à Lusa, o chefe da diplomacia portuguesa elogiou no encontro a "coragem e liderança ao longo dos últimos anos [de Tsikhanouskaya], carregando a tocha da liberdade", e de Syarhei Tsikhanouski (marido da ex-candidata presidencial em 2020] e de outros presos políticos que "são heróis da democracia".
"Acredito muito que em algum momento, e pode ser mais cedo ou pode ser mais tarde, o ditador da Bielorrússia cairá, o seu regime entrará em colapso, e o povo da Bielorrússia beneficiará da liberdade a que tem direito".
Cravinho descreveu a situação atual como "muito sombria", referindo que o território da Bielorrússia foi usado para o lançamento da invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, numa tentativa fracassada de chegar a Kiev.
"A Bielorrússia é mais do que cúmplice, é parceira no crime da invasão de [Vladimir] Putin (Presidente russo) e enquanto Lukashenko estiver no poder, é isso que permanecerá. Ao posicionar armas nucleares táticas na Bielorrússia, Putin moveu-as várias centenas de quilómetros para o oeste, o que é claramente uma tentativa de intimidar não apenas a Ucrânia, mas também a NATO", afirmou o governante, adicionando que "é também a maneira brutal de Putin dizer que na Bielorrússia ele faz o que quer e que a soberania da Bielorrússia pouco lhe interessa, exceto em termos puramente formais".
Ao longo dos anos, na análise do político português, o Presidente bielorrusso envolveu-se num "ato de equilíbrio, por um lado sendo amplamente dependente do seu patrono Putin, mas ao mesmo tempo buscando estabelecer uma certa esfera de autonomia".
O maior problema de Lukashenko, prosseguiu, é que, "à medida que a guerra avança, o seu próprio espaço de autonomia, que é sua tábua de salvação, está a tornar-se cada vez menor" e, quanto mais a situação militar piora para Putin, "a sua instrumentalização da Bielorrússia tornar-se-á menos tolerante" com os requisitos do líder do Governo de Minsk.
"A derrota da Rússia na guerra contra a Ucrânia será um desastre também para a ditadura na Bielorrússia", sustentou.
O fim desta guerra exigirá uma "nova e sólida arquitetura de segurança", atendendo ao que aconteceu nos últimos oito anos ou mais, disse ainda o chefe da diplomacia portuguesa, citando o exemplo da Geórgia.
A líder da oposição bielorrussa, derrotada por Lukashenko nas eleições realizadas em 2020 e consideradas fraudulentas pela generalidade da comunidade internacional, expressou por sua vez gratidão a Portugal.
"Foi um prazer receber o ministro João gomes Cravinho no nosso escritório em Vilnius hoje. Discutimos a transferência de armas nucleares para o nosso território, as ameaças iminentes contra a nossa independência e a estratégia da União Europeia para a Bielorrússia. Agradeço o apoio contínuo de Portugal, declarou no Twitter.
Tsikhanouskaya, assim como outros opositores ao regime de Lukashenko, fugiu do país depois das últimas eleições presidenciais, em agosto de 2020. .
Lukashenko, aliado de Moscovo, conquistou o sexto mandato consecutivo com 80% dos votos, mas o resultado das eleições não foi reconhecido pelos Estados-membros da União Europeia, que viria a aplicar sanções contra Minsk, envolvendo membros do Governo, personalidade do regime e instituições por violação dos direitos humanos.
A líder da oposição, Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020, apelou no ano seguinte para criação de um tribunal internacional para investigar e julgar crimes alegadamente cometidos pelo Governo de Lukashenko.
"Não podemos autorizar os ditadores a escrever a história", insistiu Tsikhanouskaya.