Na Europa dos direitos humanos, “há retórica do medo e da hostilização” contra os refugiados
26-01-2016 - 00:59
 • Liliana Monteiro

Director do Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados considera que os países europeus devem ter uma posição concertada e deixar de empurrar o problema para o vizinho.

O director do Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, André Costa Jorge, lamenta, em entrevista à Renascença, a prática de uma retórica do medo e da hostilização contra os refugiados, que se verifica na Europa da liberdade e dos direitos humanos.

O parlamento da Dinamarca vota, esta terça-feira, a polémica reforma da lei do asilo, que prevê o confisco de valores aos migrantes, o que remete para o que aconteceu com os judeus durante o regime nazi. André Costa Jorge lamenta e sublinha o sinal contraditório dado pela Europa: “Por um lado, apelamos aos valores fundamentais europeus, aos direitos humanos, mas depois a informação que chega é que há países que têm uma posição claramente assente na retórica do medo, da hostilização do outro.”

Esta segunda-feira, numa reunião de ministros do Interior da União Europeia, em Amsterdão, concluiu-se que o sistema de recolocação de refugiados está a falhar. A prová-lo está o facto de que um sistema que devia receber 160 mil pessoas nem metade acolheu até ao momento.

Para André Costa Jorge, o sistema foi mal concebido e, deste modo, nem em dois anos os objectivos serão concretizados.

André Costa Jorge explica que o actual modelo “hot spots”, em que os migrantes são registados, na Grécia e Itália, não é eficiente. As pessoas estão em movimento e, rapidamente, percorrem rotas já definidas pelos traficantes de pessoas que transportam os refugiados ganhando dinheiro com isso. Por outro lado, politicamente, vê-se que a Europa nesta matéria não está a só uma voz, critica.

É preciso perceber se as autoridades dos países de entrada na Europa têm realmente capacidade para conseguir fazer o registo de todos os que chegam, e são milhares todos os dias, afirma o director do Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados.

Para além disso, há entre as autoridades destes países europeus um certo “laxismo” no sentido de não registar os migrantes, na esperança de que passem para o país vizinho. O fracasso da operação de recolocação também se deve à lógica europeia de sacudir para o país vizinho o problema, assinala.

Para o director do Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, a Europa deve seguir procedimentos que permitam instalar os migrantes, “de forma legal e em segurança, evitando o lucro de quem trafica pessoas”.

“Apelamos a que haja uma liderança da Europa, uma resposta concertada no sentido de baixar consideravelmente o número de vítimas, reduzir o lucro de quem negoceia em condições terríveis as viagens dos refugiados e, tanto quanto possível, a Europa conseguir fazer a reinstalação dos refugiados de forma concertada entre os vários países europeus”, defende André Costa Jorge.

Dos 351 refugiados recolocados em países europeus, 26 estão em Portugal.