Pelo menos dois portugueses morreram de Covid-19 no Brasil. Números reais podem ser muito superiores
19-05-2020 - 15:00
 • Inês Rocha

“Há uma dificuldade em termos uma noção clara se há casos de cidadãos portugueses infetados”, admite cônsul de São Paulo, que confirma a morte de, pelo menos, um português no estado. No Rio de Janeiro, há mais uma morte a registar. Conselheira da comunidade madeirense denuncia: “os números que sabemos não são os reais”.

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Pelo menos um português morreu de Covid-19 em São Paulo, no Brasil, confirmou à Renascença Paulo Nascimento, cônsul de São Paulo. O cidadão português vivia entre o Brasil e Portugal, avançou o cônsul, sem dar mais pormenores. As cinzas foram transportadas para Portugal, com o apoio do consulado.

A Renascença sabe que, no Rio de Janeiro, morreu pelo menos mais um português, que vivia há cerca de 40 anos naquele estado e era casado com uma brasileira.

O cônsul de São Paulo diz não ter conhecimento de outros portugueses infetados com o novo coronavírus. No entanto, lembra que a comunidade portuguesa no Brasil é uma realidade “muito heterogénea”, sendo difícil ter um registo preciso.

No consulado de São Paulo, que cobre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, estão inscritos cerca de 300 mil portugueses. Mas muitos não estão registados no consulado e têm dupla nacionalidade.

“Poderá haver mais casos. Não é de excluir que haja portugueses que, por serem residentes no Brasil, têm direito ao Sistema Único de Saúde (SUS), que se deslocam a uma unidade para fazerem teste ou serem internados. Nesse caso, não importa a nacionalidade”, explica. “Há uma dificuldade em termos uma noção clara se há casos de cidadãos portugueses”.

Ainda assim, Paulo Nascimento tem contactado, semanalmente, com hospitais públicos, penitenciárias onde estão portugueses detidos e ainda associações da comunidade portuguesa, espalhadas por diferentes regiões. “As respostas têm sido negativas”, garante.

Por outro lado, o cônsul de São Paulo explica que a maioria dos portugueses a viver na região está a cumprir cuidadosamente as recomendações das autoridades de saúde, pelo que o número de casos não terá disparado.

Questionado pela Renascença acerca dos números de portugueses infetados em todo o Brasil, o gabinete da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas não adianta estas informações, dizendo que "não é possível dispor de dados fiáveis quanto aos cidadãos nacionais infetados com Covid-19 no estrangeiro".

O Governo português explica que "esta situação deve-se, em primeiro lugar, ao facto de grande parte dos países não distinguirem os mortos ou infetados por critérios de nacionalidade. Os nacionais infetados também não comunicam esta informação aos postos consulares, nem têm qualquer obrigação legal de o fazer".

Comunidade madeirense em São Paulo conta pelo menos quatro mortos. Dois são descendentes de portugueses

Já entre a comunidade madeirense em São Paulo, que envolve segundas e terceiras gerações de portugueses no Brasil, há pelo menos dez casos conhecidos de infetados com Covid-19. Quatro deles morreram da doença.

Em declarações à Renascença, Maria Sardinha, Conselheira da Diáspora Madeirense no Brasil, explica que apenas duas das pessoas infetadas nasceram em Portugal – uma delas já saiu dos cuidados intensivos, mas está ainda internada. Outra já terá recuperado.

Os restantes casos referem-se as pessoas com alguma ligação familiar ou afetiva à comunidade madeirense, mas sem nacionalidade portuguesa. Das quatro pessoas que morreram de Covid-19, duas são descendentes de madeirenses. As outras duas têm ligações afetivas à comunidade.

Ainda assim, Maria Sardinha lembra que estes são apenas os casos confirmados.

“Os números que sabemos não são os números reais. Os testes só são feitos a quem tem sintomas graves”, garante a conselheira.

Um estudo realizado por universidades brasileiras, publicado no início de maio, apontava que o número real de casos de coronavírus podia ser já superior a 1,6 milhões, um número 14 vezes maior ao que registavam os números oficiais (108 mil).

Quanto ao número de testes realizados, os números totais não são divulgados: o país divulga apenas os exames realizados em laboratórios públicos. Destes, o último número conhecido é referente a testes realizados até ao dia 20 de abril - cerca de 132 mil testes.

Se compararmos o número de testes no Brasil com Portugal, que tem uma população inferior em cerca de 20 vezes à brasileira (em 2019, o Brasil tinha 210,1 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as diferenças são gritantes. Até ao dia 23 de abril, Portugal já tinha ultrapassado a barreira dos 300 mil testes, mais do dobro dos testes realizados no Brasil.

Esta sexta-feira, o ministro brasileiro da Saúde, Nelson Teich, pediu a demissão, menos de um mês depois de tomar posse e em plena pandemia da Covid-19.


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